sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Às vezes eu me esqueço

Não é segredo pra ninguém o quanto eu tenho aumentado minha repulsa pela cidade, pela civilização e pela sociedade. É tudo muito agressivo ao meu sensível caráter e meu frágil existir. Já não basta ter que fazer vista grossa a preconceitos 24 horas por dia, ainda tenho que agüentar a sujeira e o barulho? Meu ovo! Mas as luzes e os cartões postais de concreto que resplandecem à noite nessa cidade me fazem ter um pouco mais de esperança.
Quando eu saio de bike à noite é como se eu não enxergasse mais a cidade hostil. Não há tanto barulho e o fluxo reduzido de veículos me dão uma ilusão de liberdade urbana. Às vezes um buraco, um esgoto entupido, me devolve à realidade, mas no geral o passeio é pura inspiração à luz da lua.
Um dia desses, voltando de madrugada eu parei para contemplar o visual da nossa baía, ali da descida de Plataforma. Era quase 2 da manhã e havia uma cobertura enfumaçada na área onde antigamente haviam palafitas. Não era nenhum incêndio, apenas a neblina cobrindo o pé da serra. Ao longe via-se a cidade cintilando, como uma caixa repleta de tesouros. Ontem, novamente no mesmo lugar, eu pude ver do outro lado uma escadaria deserta, imensa, que leva até o bairro lá no alto, não parei, continuei subindo e observando estupefato pelo fato de nunca ter notado algo tão grande, e tão marcante, e tão bonito fotograficamente falando.
Outra coisa engraçada é que escutando música no modo aleatório eu normalmente tenho muitas horas de música sem repetição no mp3 de 4gb. Na ida tocou uma música que eu nunca mais tinha ouvido "óia rapa" do rappa, que no fim entra uma galera cantando: "bom dia passageiros é o que lhes deseja a miséria S/A que acabou de chegar..." após alguns segundos de silêncio. Coincidentemente, na volta tocou a mesma música, mas eu na minha doideira elocubrativa ciclística nem tinha notado até chegar no silêncio final e iniciar novamente a cantoria: "bom dia passageiros é o que lhes deseja a miséria S/A que acabou de chegar..." Eu estava exatamente no mesmo lugar da ida: o trecho entre a azevedo madereira e a cesta do povo do Lobato. Mensagem?
Eu odeio a cidade, mas amo o subúrbio. Pode ser viagem de suburbano, mas eu não tenho como não ficar maravilhado com cada surpresa bacana que eu me deparo. "Miséria é miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes..."

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