terça-feira, 31 de julho de 2012

Um cão

Sou como um cão
Sim
Nas ruas vago como um cão
Alheio ao passeio
Despreocupado com o vai e vem
Guiado pelo cheiro
Norteado pelo vasto horizonte
Daqui sem medo de quem vem
lá, Zeloso de quem vem cá
Esse mundo vai até onde posso ver
Sou silencioso,
mas não passo despercebido
Outros cães há
À minha espreita
Os cães, espiritualmente, ladram

Sou como um cão
Sim
Nas ruas ladro como um cão
Despreocupado com a paz alheia
Guiado pela liberdade
E totalmente desorientado
Encontrado perdido
Medroso de quem vem longe
Raivoso de quem chega perto
Faço barulho
Mas não perturbo ninguém
Outros cães há
à minha escuta
Os cães, espiritualmente, vagam

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Blogger life 21

Tudo começou como um engano. Eu não estava certo sobre nada e não tinha nenhum motivo para me preocupar com isso, mas o que eu percebi no fim foi que tudo sempre tem a ver com a gente, não há como se esconder disso. 
Três amigos numa estrada deserta, um helicóptero da tv sensacionalista e uma vizinhança hostil não faz ninguém ficar tranquilo. Nessas horas a gente reza para todos os santos da Bahia. Felizmente nossos anjos da guarda raramente tem saído para passear, pois não está fácil. Salve Jah!
Encontros e despedidas é o que eu tenho vivido ultimamente. Ou seria chegadas e partidas? Tem dias que parece que todos estão te abando nando, noutros dias parece que reencontramos todos os nossos antigos camaradas de tempos memoráveis e ainda temos tempo e disposição para mais e mais. Isso é bom. Às vezes não sobra tempo pra mais nada, às vezes nem é suficiente. Ficamos presos no jogo do tempo, que nunca nos deixa ir à frente.
Gripe. Acontece toda vez que eu discuto aborrecidamente. Dessa vez eu tinha razão e não há o que eu possa fazer quanto a isso. Só tomando uns "aio" pra curar, um chazinho de limão e eucalipto e cama. Bem que um carinho não ia ser mal não, mas a última que veio aqui com essa promessa me deixou ainda mais doente (acho que queria me matar). 

Mulheres, 
loucas e encantadoras mulheres
sádicas e veneradas mulheres
desejadas e menosprezadas mulheres
incompreendidas
Incompreensíveis
Louvadas sejam!

Acabo de abrir minha caixa de textos e descobri uma montanha de poemas e textos de toda a sorte e de todos os tempos, tempos em que eu ainda não me via fazendo outra coisa que não escrever, tempos em que a poesia era tão natural que era preciso ter cuidado para não acabar chamando demais a atenção. Minha timidez só aumentou com o passar do tempo, mas a cachaça e o rock trataram de corrigir, ou pelo menos, aliviar a minha barra por muitos anos. Agora eu sou quase um ex-baixista. Meus planos de virar escritor não existem mais porque eu acredito ter me tornado um, não nos moldes que se conhece, mas uma espécie. Ainda estudo e aprendo diariamente, mas confesso que não há nada no mundo que eu deseje mais do que compreender a mim mesmo; saber porque eu faço as coisas que faço e porque escolho os caminhos que escolho, porque as pessoas não me enxergam e passam com suas lições de moral por cima de mim sem perceber que minha representatividade de conjunto vazio é uma caixa de ressonância? 
Pelo menos o poeta está salvo.
Aos malucos, Deus protege!

pessoas estranhas

são  pessoas estranhas
que não se falam
não dividem um doce
nenhuma bala
pessoas estranhas
que não se falam

sábado, 21 de julho de 2012

Blogger life 20

Tem dias que eu não tenho um segundo de descanso, mas nem sempre consigo me dar conta de meu cansaço e levar meu corpo a um repouso ainda que ligeiro. O dia nunca acaba se tem algum lugar pra ir. Quando o azar é perder a hora do sono sempre há uma coleira esperando um inquieto companheiro, e lá vamos nós, notívagos. A noite nos conhece porque é ela a nossa sombra, nossa espreita. O descanso da noite só aparece na falta de um lugar bacana pra se ir, nem tanto a falta de companhia para se descansar e aquecer, é muito mais a ausência total de opções.
Mas tem coisa pior que a falta de descanso: a falta de senso é uma delas. Já é difícil demais se manter coerente quando se está realmente cansado, é preciso estar atento aos próprios vacilos e aos vacilos dos outros vacilões que nos cercam. É uma luta, mas deve ser vencida. Não é como entender as mulheres, que apesar de meu incansável esforço eu não consigo. Muitos podem não achar nada demais isso, mas eu sou um sonhador, acredito que não existe do meu quilate, mas elas insistem em procurar príncipes e acabam com um que lhes dê um conforto por pouco mais que um falso orgasmo. Crianças tolas! Acabam sem nada e caras legais como eu se acabam com as malvadas, na cachaça. Mas eu luto. Devemos lutar sempre. Deixa pra descansar no inferno que é lugar quente.
Se eu fosse começar a escrever uma biografia sobre mim mesmo acho que eu começaria dizendo que nunca quis falar sobre mim, ou sobre meus atos, mas sou a única experiência que tenho com esse mundo. O que faço, de caso pensado ou não, são meras designações do destino. Não há muito o que se fazer quanto a isso. Se você anda de acordo com o que você acredita é possível até mesmo relaxar e esperar pelo que vier, pois virá e não tardará. Isso não é a bíblia sagrada, não são palavras de poeta louco e ignorante, é uma experiência que se repete desde a expansão das galáxias. É tão simples, tão natural que eu não esquento mais minha cabeça, quando não sou compreendido, ou deixo algo sem uma maior investigação, digo, sem querer me intrometer demais na vida de quem quer que seja, mas à minha volta as pessoas estão preocupadas com a minha opinião e acho que me compreendem bem, mas a insistência, talvez para me testar, talvez por malignidade, ainda existe a mínima possibilidade de que seja simples estupidez, não pela estupidez bruta, crua, uma espécie de “inexperinência lobotômica” seja lá como alguém vá entender o que isso quer dizer. Eu posso encarar muitas situações com diversos pontos de vista, muita gente sabe disso, muita gente simplesmente despreza a existência disso, pois só consegue pensar em si mesmo, enquanto outros nunca pensam neles mesmos, eu não consigo parar de pensar nas coisas e isso não precisa ser um tormento para mim. É um universo fabuloso de possibilidades, mas tem horas que o corpo, a mente, a energia, se vai. Não sei quanto tempo minha mente cercada de drogas e preconceitos pode resistir.
Depois de ouvir a “orquestra glauberiana” eu fiquei com muito mais medo de gravar sozinho. Sou uma puta? Imagina... A banda nova continua sem nome, ainda falta umas peças, uns ritmos, uns acordes, mas vai sair e vai ser esplêndido. Domingo é dia de ensaio e espero que seja assim até o fim do...e 2012 acabará-se com o mundo? No que depender de mim pode acabar com tudo, mas antes eu faço uma festa. Ainda tem “o clube”... quero ver quando o Honkers ressuscitar o que será, que será de mim? O que sei é que hoje eu falo muito e nada sei, amanhã já chegou e ontem estão nestas linhas mal pensadas.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Desgracio-Cidade


A ci-da-de
Des-trói
o des-gra-çado
Humano
No há nenhuma compaixão
Você vive, mas não há uma biografia
É uma contagem progressiva
Que no fim começa a regredir
Aí passa a vida toda que não viveu
Cada passo errado vem na lata
E a peste da cidade aí
Roubando a vida do infeliz
Sempre pronto pra matar por amor
Morrer pelo dinheiro
Para o regozijo dela
Muitos Morrem 
Sem saber o que Morreu
Como quantos vivem
E não sabem
Saber que o fim é tudo
Já é demais

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Blogger life 19

O inverno chegou e com ele meu medo de o ano acabar e eu não fazer absolutamente nada do que eu planejava. Não sei se eu planejo demais e ajo de menos ou se eu quero fazer mais do que é humanamente possível, o fato é que cá estou no "inverno astral". Eu nem sei mais como fazer para estar nos lugares que eu quero ir e isso é uma coisa razoavelmente simples. Falto a mais compromissos do que seria possível estar presente, mas eu juro que gostaria de estar nos aniversários, nos shows, apresentações e despedidas dos amigos, mas é complicado e vai ficar mais ainda pelo menos até setembro, pois Marieta estará de férias até a primavera. Sim! Nada de bike até setembro. Eu vou morrer? Tomara que não, mas vou ver bem menos gente a menos que venha mais gente me ver. Claro que eu ainda vou sair para encontrar pessoas, mas me entendam se eu não aparecer. Eu sempre entendo quando as pessoas não aparecem.
A bike está desmontada porque eu estou cansado de ter prejuízo com essa cidade alagadiça. Só uns meses a pé pra me fazer ter um pouco mais de ódio pela vida urbana...
... enquanto isso, a briga com o resto do mundo pela Mata do Cobre e Vale do Paraguari vai ocupar mais ainda do meu tempo livre, já que a banda também está de férias, aliás, tenho uma banda nova há alguns meses, mas ainda não é hora de dar as caras.
The Honkers está sem vocalista. Sputter diz que não quer conversa com a gente. Se não lançarmos músicas novas até o fim do ano considerem o fim.
O celular quebrou, arrumei outro: quebrado; arrumei outro: quebrado, minha cunhada linda me arrumou outro que também tem problemas, ou seja...
No São Pedro é que foi onda... 
Estava no desespero de passar o inverno na metrópole (parece viadagem, mas não é), tentando me manter mentalmente sadio e veio o convite pro Capão. Era quarta, íamos quinta... já no caminho alguém se lembrara que esquecera as barracas... eu estava sem barraca porque a minha estava na mão dos outros... sem telefone como é que eu ia pegar minha barraca? Pior não era isso, não. Eu até arrumei um telefone pra tentar me articular melhor pra viagem e pra fazer inveja em gente que tava bem longe da Chapada, mas se eu não tivesse sorte não era tão azarado: O telefone que eu estava descarregou "pra sempre" antes de eu conseguir. O melhor foi que eu pude ir pra guerra de espadas da Urbis (Conjundo Dom Eugênio Sales, "que Deus o tenha!") e encontrei algumas pessoas que me fizeram, acredite, adorar não estar no Capão. Acho que só o sorriso de uma gracinha que esteve aqui em casa já faria toda a chapada florescer, mas é, como dizer... um pouco de exagero.
Agora começou a chover como o inverno manda e aqui estou eu em casa, sem bike, sem mulher, sem grana, sem beber, sem banda... sem banda, não!  Sem um livro, sem um disco, sem uma árvore... Estarei bem ocupado esses dias. Arranjarei tempo pra tudo o que eu não consigo fazer.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Diários de viagem - Mucugê, 27 de abril de 2012



Chegar em Mucugê foi mole, apenas 23km de pedalada e o trecho mais punk, que era a saída de Igatu, era de uma beleza tão inebriante que eu nem percebi a dureza da subida da serra: uma estrada de terra e pedra ladeada por paredões exuberantes, arbustos, árvores imensas, nascentes, um universo magnífico de pássaros de todas as cores e cantos. Nesse "calvário" eu vi a maior concentração de beija-flores em uma mesma árvore que desabrochava suas flores em um lilás tão claro como o próprio dia. Duro foi chegar em Igatu anteontem à noite.
Saímos de Itaeté às 11h da manhã porque quem consertaria a bicicleta de Tetéu, só foi chegar "da roça" às 10h. Na verdade até encontramos uma outra oficina, mas confiamos na dica de Américo (o dono da pousada em que estávamos hospedados e também é secretário do meio-ambiente) e Tetéu preferiu esperar pelo tal do Loy (o bicicleteiro) que apareceu para mim mais como um "pacuí"com seu litrão de pinga.
Américo nos deu várias dicas de passeios para que aproveitássemos melhor a estadia em Itaeté. Infelizmente nosso tempo e grana não eram compatíveis e tínhamos uma meta a cumprir: chegar em Guanambi para o 1º de maio. o que nos impedia de nos demorar demais em qualquer lugar.
Desde a chegada na cidade que perguntamos a um e a outro onde consertar a bike, mas o único lugar que encontramos estava fechado e na casa contígua do dono ninguém nos atendeu. O Américo (também ciclista) então nos falou de Loy, que montara sua bike alguns dias atrás, mas ele já dormia e apenas na manhã seguinte poderia nos salvar. O problema foi que quando Tetéu lá retornou às 7h ele já havia saído pra roça, mas retornaria ainda pela manhã. Enquanto eu esperava, escrevia. Tetéu foi até lá mais uma vez e encontrou o sujeito, comprou o câmbio novo e retornou para arrumar a bagagem.
Depois fomos juntos até a oficina de Loy e aí eu pude conhecê-lo (que ser humano mais fantástico!). Sua simplicidade se confunde com desmazelo, parecido comigo nesse ponto, e sua simpatia, que em Salvador seria confundida com esperteza de hippie, é apenas o cuidado com as pessoas que ele preza e com quem mantém contato. 
Ele tem uma bike de 3m de altura que não sei onde eu estava com a cabeça quando topei dar uma volta. Minhas pernas nem cabiam no espaço entre o banco e o pedal, mas eu fui assim mesmo e não caí (uma queda daquela altura ia ser um estrago enorme). Entre uma dose de abaíra e outra ele consertou a bike e logo depois já estava consertando uma moto com seu bom-humor e seu papo de "bicho-grilo-pós-moderno" formidável. 
O encontro com Loy foi uma espécie de preparação para  que estava por vir. Eram mais 9km de costelas de vaca subindo uma serra que não tinha mais fim. Foi o trecho mais desgastante da viagem até aqui: "a saída de Itaeté até o fim das costeletas de Beth". Sob um sol abominável e subindo por uma estrada de pedra e chão, com a barriga já ameaçando reclamar o meio-dia, sentindo o corpo cada vez mais pesado mesmo sabendo que é leve que ele vai se tornando a cada segundo, até que acabou. As costelas/costeletas/chuletas desgraçadas  de Beth deram lugar a um asfalto quase impecável por um bom trecho e um verdadeiro tapete no restante.  Encontramos um ciclista, Isoldino, do Assentamento Santa Clara. No seu vilarejo também tem uma "Beleza Natural Imperdível" a um preço baixíssimo, mas o nosso "tempo"... 
Chegamos em Rio Una às 13h, no bar de Sidney (proprietário) e Nildenor (graçon figura), que além de salvar nosso almoço ainda nos deram dicas importantes de mais pontos turísticos de "belezas naturais Imperdíveis" que não iríamos ver dessa vez. Sidney falou sobre os perigos da estrada e das carretas que descem sempre cautelosas, mas que de vez em quando não conseguem evitar algum deslize, que com ciclistas, nosso caso, poderia ser fatal.
Depois que saímos de Rio Una, até Igatu, ainda andamos mais uns 20km depois pegamos uma estrada de barro e pedra descendo mais 7 km na escuridão, ouvindo apenas os sons da noite. Foi uma jornada bem difícil, mas teve recompensa. A cada metro abaixo se viam as furtivas luzes da cidade aparecendo e desaparecendo em meio à vegetação e ao relevo e eu sentia todo o meu corpo "se bulindo".
Logo em nossa chegada, uma pizza de boas vindas e de gratidão por estarmos naquele lugar encantado, servida por Nil(zete), um anjo que com toda a sua paciência nos ensinou quase tudo sobre a vila de 350 habitantes quase invisível mesmo a poucos metros: "nada de cartões de crédito ou celular." Eu que já estava sem quase nada, acabei por me quebrar. Até chegarmos ali não planejamos nos reter em nenhum lugar mais que uma noite. 
Porém, contudo, mas, dadas as circunstâncias, nada mais justo que passarmos ao menos uma manhã descansando de verdade e conhecendo um pouco mais daquele lugar  fantasmagoricamente esplêndido.



Passamos a noite na Pousada Xique-xique do nosso já velho amigo, Rafa, ainda encontrei o Marcos (guia de Lençóis) que conheci há um ano na Toca do Macaco (trilha da cachoeira da Fumaça por Baixo). É sempre bom rever amigos, ainda mais conhecidos em lugares tão espetaculares. Depois de um breve papo com essa galera resolvi dar uma volta solitária na noite deserta e sombria de Igatu, reparando no contorno das montanhas em volta, também no céu, no silêncio e na energia imensa e cativante do lugar e voltei pra dormir. 
A manhã de descanso serviu para lavarmos roupa, passear um tiquinho e conhecer mais uma alma de valor inestimável: Pedrinho. Sabe aquele cara que conversa com você sobre todas as coisas com a mesma com desenvoltura, isenção, naturalidade, dirimindo cada dúvida do seu peculiar ponto de vista pormenorizadamente e com um bom humor invejável. Tomamos o café da manhã ouvindo suas histórias e depois, no almoço, a gente teve mais uns minutos de conversa bem animada com ele, Nil e as crianças. Ficamos pouco mais de 12 horas em Igatu, mas o sentimento de tristeza ao deixar aquele lugar parecia o de alguém que estava derixando o próprio lar. Subimos a serra.

Se chegue

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