segunda-feira, 24 de março de 2008

Chove na Mongólia

Sei que minha coluna dói e que, enquanto respiro, nada está parado.
Sei que o meu sapato deixa marcas no meu pé e no chão.
Sei que nunca vai me escutar, mas, talvez, ler-me-á.
Sei que o mundo está mudando.
Sei que eu estou mudando.
Sei que na sua atual vida o passado não importa.
Sei que o futuro ainda não existe.
Sei que está frio.
Sei que todas as formas de se ser humano também são ridículas.
Sei de tudo.
Sei de porra nenhuma!
Não quero nem saber!

O cachorro do imperador da China latiu

Gosto de salsa.
Meu sono é normal.
Sonhei com uma amiga e com uma garota que eu nem conheço.
Nos beijamos.
Eu e a garota que eu não conheço.
Acordei.
Saí.
Voltei.
Assisti Sin City mais uma vez.
A salsa dá gosto ao feijão e conforta meus ouvidos.
Tenho sono e muito que fazer.
O quê fazer?

“Precisa-se de uma churrascaria chinesa!”

13/09/2005

Ao acaso (mini-conto)

Ela estava ali bem na minha frente, totalmente entregue. Não tinha mais como escapar dos olhares, das carícias, dos sussurros... estava completamente envolvida e já queria tanto, e com tanta urgência, que por apenas um segundo não me beijou.
Recobrei a consciência e percebi que aquilo era apenas mais uma das minhas loucuras, mas eu não estava mais a fim de bancar o bonzinho, o correto, o perfeito. Olhei para ela com o mesmo carinho de antes, mas as minhas palavras não eram mais galanteios e sim de despedida. Poderia ter seus 17 anos, mas aos meus olhos, naquele instante, pareceu apenas uma criança e não era isso que eu buscava essa noite: ficar conversando, aconselhando, explicando, convencendo, sorrindo, enxugando lágrimas... não. Queria dançar, sair, ficar, beber, relaxar, provar, deixar, voltar... simplesmente não pensar em nada.
Dei meia-volta e encontrei a salvação para a minha alma perdida, cura para todos os males do mundo que habitavam meu corpo aquela noite, me apresentei com um sorriso malicioso e o reflexo foi ainda mais devastador: era uma fada, uma rainha, uma deusa. A empatia e a precisão daquele encontro ao acaso foi tamanho que, na manhã seguinte, nossos sorrisos ainda eram os mesmos. Não queríamos nos despedir, mas a vida sempre será assim, incerta, insegura, mas com maravilhosas surpresas, que a gente só experimenta abrindo mão de algumas outras tantas incertezas.

18/10/2005

terça-feira, 18 de março de 2008

Relacionamentos

Num mundo de 6(7) bilhões de pessoas a gente pode não encontrar o par perfeito, mas o melhor de tudo é seguir buscando, pois a recompensa é certa. Não faz sentido se viver mal com alguém só por que se tem medo da solidão, ninguém está só. Nunca estará.
O medo é uma grande bobagem, pois já sofremos o nosso pior trauma ao nascer e nada no mundo pode ser pior que isso. Saímos do único lugar onde poderíamos nos sentir seguros e entramos, sem a menor noção, num mundo imenso e novo, para irmos descobrindo, pouco-a-pouco, o nome de cada coisa, cada cheiro, cada gosto, cada cor, cada letra, papai, mamãe, para os que tiveram a sorte de poder crescer e aprender a ler, e escrever, e ser lembrado e, depois disso tudo, sofrer de amor, ter medo da solidão, ser cruel, ser tímido, ser uma pessoa diferente de todas as outras e não ter a certeza de que é único.
Em cada lugar, a cada conversa, a cada novo dia a gente pode perceber que precisamos nos conhecer bem para que possamos entender os outros, precisamos nos amar muito pra podermos amar a alguém, mas, acima de tudo, precisamos perder o medo de buscar a felicidade.

Texto publicado em 18/01/2005: http://www.fotolog.com/t612/9250928

sexta-feira, 14 de março de 2008

Desgraciosidades infantis

Pra quem não sabe eu sou um menino do interior criado no subúrbio. Quando vim para Periperi mais da metade das ruas não tinham asfalto e boa parte delas ainda era um imenso brejo que estava sendo aos poucos aterrado. Haviam palafitas, camas d’água e muita área verde. Num lugar desses o que não falta é aventura pra uma criança “criativa”.
Lembro bem de algumas coisas de minha infância. Lembro das muitas armas que utilizávamos para caçar, pássaros, sapos, lagartixas, ratos ou até mesmo uns ao outros. Com a arma certa havia sempre motivos para se atirar em alguém. Às vezes usávamos nossas armas nas guerras que fazíamos com bonecos (comandos em ação, playmobil, forte apache, guliver... o que fosse).
Minha arma favorita era o badogue¹. Eu era realmente muito bom. Conseguia acertar em uma mosca num talo de cocó². Na verdade a gente nunca sabia se eu acertava mesmo porque nunca encontrávamos os corpos no esgoto.
Fazíamos armas com quaisquer coisas: tubos, elásticos, borrachas, arame, pedaços de pau etc. Tinha uma “espingarda” que era feita com elástico(desses que as meninas brincavam de Ôno-um³), um pedaço de pau(que normalmente vinha do lastro da cama de alguém), um prego e um prendedor de roupa. O prendedor de roupa servia de gatilho e também segurava a bala, que normalmente era uma tampinha de garrafa (das garrafas de vidro, ainda nem existiam garrafas tipo pet.). Essa espingarda a gente usava para fazer guerra entre nós e eram sempre batalhas maravilhosas quando conseguíamos juntar uma galera.
Tinha uma “arma” que era apenas uma borracha dessas de enrolar dinheiro. A munição eram ganchos de arame e caçávamos sapos nos esgotos do bairro ainda sem saneamento. Com essa arma eu não brinquei muito, porque quase acertei meu próprio olho, aí fiquei meio “nas cocó”4.
Mas o que eu era pirado5 mesmo era com o badogue. Não podia passar por um araçazeiro sem observá-lo bem para ver se havia uma boa forquilha, pois, segunda a lenda, são as melhores para um bom estilingue.
Apesar de eu ser muito bom com ele, nunca conseguia acertar um passarinho, mas ratos, lagartixas e sapos eram exterminados sem piedade. Uma das poucas vezes que eu consegui acertar em um foi em Santo Amaro e era um Sangue de Boi ainda filhote, já grande, mas ainda filhote. Por sorte eu não o matei e pude pegá-lo para criar. Ele ficou aqui em casa por vários meses até que um belo dia alguém deixou a gaiola aberta e ele foi brincar com o cachorro que o espedaçou. Só encontrei o resto do seu corpo sendo devorado pelas formigas. Enterrei-o e nunca mais brinquei de atirar em passarinhos.


Glossário
1 – Bodoque, estilingue
2 - uma espécie de planta do brejo que deve ter um outro nome qualquer, mas a gente chamava assim.
3 - brincadeira de crianças do sexo feminino.
4 - (na crocodilagem) expressão que quer dizer desconfiado.

5 – fascinado.

terça-feira, 11 de março de 2008

O possível

Como a gente faz pra fazer o que é possível?
Onde é que a gente aprende a fazer o que pode ser feito?
Quando a gente vai ser preparado para lidar com situações que a gente não sabe como lidar?
Nós não temos manual de instrução.
Seria impossível ter um manual para cada cabeça, para cada situação adversa, para cada momento inesperado.
Nós temos que ser fortes sempre.
Não importa nada.
Temos que fazer o que for possível para controlar a situação.
Como?
Às vezes somos pegos de surpresa, mas temos que prosseguir.
Não importa como
Não importa a que custa
Temos que fazer o que for possível

Se chegue

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