quarta-feira, 26 de agosto de 2009

JLA 1635

Isso é a placa de um ônibus da Expresso Brasil. Ontem por volta das 17:30 nas proximidades de Ilha de São João o motorista deste veículo Jogou-o sobre mim no ACOSTAMENTO, tentando me fazer cair ou morrer, numa descida na qual a minha velocidade seria maior que a sua, pois a pista estava com muitos buracos e ele não conseguiria desenvolver uma velocidade maior. Por isso eu peço a todos cuidado com esse elemento, pois ele é um perigoso assassino e deve ser preso.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O pedal da Ilha (26/07/09)

Acordei 5:45, liguei a tv, fui tomar banho, dei uma olhada em Conhaque, que estava mancando provavelmente por causa de uma das mordidas da véspera. Dessa vez eu arrumei minha “pochete-mochila” mais decentemente: protetor solar, toalha; também lembrei de pegar duas garrafas de água empedrada que estava no congelador e saí. Tinha colocado o celular para secar sobre o motor da geladeira e quando fui pegá-lo vi que havia dado certo a técnica, e o aparelho funcionou sem nenhum problema. Pareceu até melhor do que antes de mergulhar no rio do Cobre. Já quase 6:30h, passei no QG e não vi viv’alma, passei pela porta de Antonio Cláudio e nada. Liguei em seu celular, mas só dava caixa. Dei uma volta pela praça deserta pensando no que fazer e resolvi ir sozinho para a Ilha.

A suburbana estava tranqüila. Tem alguns pontos sagrados de parada para reabastecimento, mas infelizmente os bares estavam fechados. Vim todo o caminho a bico seco, porque um homem bruto como eu não ia ficar bebendo água de estômago vazio. Fui parar apenas na feira de São Joaquim, onde comprei umas frutas para meu desjejum.

Fui para o ferry-boat na esperança de ainda encontrar o pessoal da pedalada, mas não vi ninguém. Eu tinha esquecido de olhar minha carteira e só lá que eu descobri que tinha apenas 17 reais e a passagem para a bicicleta custava R$ 13,45. Por sorte aceitava cartão e eu adiantei meu lado. Peguei o ferry de 7:40.

Lavei as frutas no banheiro do ferry e fiquei me refestelando enquanto curtia a vista. O porto de Salvador estava congestionado, havia navio pra caramba aguardando para atracar, grandes, enormes, gigantescos. Ao longe a gente vê a ponta de Humaitá e a medida que o barco se afasta a gente pode ver a quase toda a cidade, até mesmo a igreja de Periperi. Gastei 10 reais com um óculos escuro, porque o que eu estava usando, arranhado, incomodava muito e fiquei apenas com 7 contos na carteira.

Chegando na Ilha, fui direto no Bompreço pra saber até que horas ficaria aberto, caso eu precisasse comprar algo no cartão para não morrer. – Tá aberto até 19h. – Disse a gracinha que empacotava as compras. Segui meu caminho pela estrada Bom Despacho-Nazaré sem saber ao certo que caminho seguir entrei em Vera Cruz, que eu não conhecia e antes de chegar na praia encontrei um grupo imenso de bikers vindo em sentido contrário. Era o pessoal com quem eu ia pedalar junto com um outro grupo de ciclismo do centro da cidade. Dei meia volta e segui a galera. Pelo menos não estava mais sozinho.

O povo não tinha muita certeza do “por onde ir” e isso causou um certo impasse em algum lugar que parecia ligar o nada ao lugar nenhum, mas chegamos a um acordo e descemos por uma trilha verdadeiramente bonita e desafiadora. Pra começar era meio areia e meio barro, como o meu pneu não era liso eu não tive muitos problemas, mas tinha uma barreira em minha frente, ora deslizando, ora atrasando meu lado, então eu resolvi ir para o pelotão da frente. O problema foi que numa pequena descida, já chegando na base, minha roda dianteira afundou na areia e eu fui arremessado para a frente. Ainda tentei abrir as pernas e pular o guidão, mas meu shorts ficara preso e eu caí com tudo quase perdendo o saco só tendo tempo de virar de costas para o chão, jogando também a bike pra cima evitando que ela terminasse por cair em minhas costas. Por sorte pegou apenas na coxa e a bike teve apenas a manete esquerda quebrada, mesmo assim ainda conseguia frear com o cotoco.

Seguindo ainda por essa mesma trilha, logo após uma estreita e difícil subida, saímos num pequeno lugarejo onde os homens batiam uma laje enquanto as mulheres caprichavam no feijão que cheirava... Sendo um dos primeiros a subir, tratei logo de me inteirar das paradas e saber se precisavam de ajuda na laje, já que iam chegar mais de 40 corajosos ajudantes (o trabalho acabaria logo, mas o feij
ão com certeza não ia dar conta). Uma gracinha que se aproximava da panela chegou até mesmo a me oferecer um prato, mas eu tive que recusar mesmo sabendo que aquilo devia estar delicioso. Saímos um pouco a frente do que pretendia-se (Manguinhos), mas chegamos em um sítio deveras aprazível chamado Amoreiras. Um garoto local me contou que duas vezes por ano rola uma prova de motocross por aquelas plagas; é uma praia pequena e linda próxima a Itaparica. A orla é muito bem cuidada e possui também uma ciclovia em ótimas condições.

De Amoreiras seguimos não sei pra onde, mas muito mais adiante disseram que era pra um lugar chamado Baiacu”-Y” que estávamos seguindo, ou Baiaquíves, para os mais íntimos. Nesse percurso alguns ciclistas tiveram problemas com suas bikes e em uma das muitas paradas, só depois de algum tempo parados é que fomos saber que estávamos em frente a um posto médico, e eu logicamente me lembrei que havia bebebouro e dei a idéia pra quem estivesse “seco”, como eu, ir encher suas garrafinhas lá. Foi um maluco na minha frente, encheu sua garrafa e vazou, eu fui logo em seguida, em chi minhas duas garrafinhas e vazei, mas quando eu saí do posto não encontrei nenhuma alma ciclística na pista esperando, ou mesmo pedalando por perto. A galera simplesmente desapareceu e lá fui eu atrás do bando.

Devo ter pedalado uns 5km até ver sinal das pessoas e isso já me deixou meio puto. Tava começando a pensar seriamente em continuar minha jornada sozinho (ia ser bem mais divertido). Quando finalmente alcancei algum grupo (que aguardava alguém com o pneu furado) marcamos de nos reunirmos no posto, mas quando cheguei lá o infeliz estava fechado então paramos numa “venda” para reabastecer. Pedi logo uma cerveja e lá se foi mais 2,5 dos meus 7 reais. O bom foi que como o pessoal de Periperi não chegou, eu bebi no gargalo, sozinho e aquilo me meu tanto fôlego que voltaria pra casa numa jornada só. Alguns ciclistas também eram adeptos da cerveja, mas como eu não conhecia e nem fui apresentado a ninguém, me limitei a fazer um brinde discreto. A garota que atendia nessa “venda” era uma gracinha então eu puxei conversa sobre a trilha que seguia ao lado do estabelecimento. Ela disse que ia dar num rio com cachoeira e tudo e que seriam uns 40 minutos ou menos de bike. Falei com alguns ciclistas e eles até acharam uma boa, mas quando consultaram a chefe ela foi categórica: “Não vou porque eu não conheço. A gente vai seguir o que tava previsto!” e isso deu o assunto por encerrado, mas eu ainda volto lá.

O povo de Periperi deu o “zig” e agora eu era um total intruso num passeio de estranhos. Seguimos pro tal lugar por uma estrada cheia de subidas sem fim e descidas enormes até mais alguém se quebrar e a gente parar de novo, dessa vez perto de um rio que eu, é claro, fui ver de onde vinha e me bati com um visual bastante parecido com o do rio do dia anterior, onde Conhaque deu o mergulho do pânico. Também é claro que o povo não viu nada, pois onde eles paravam não se mexiam pra admirar nada (povo estranho da zorra).

Quando finalmente chegamos em “Baiaquives” eu pude sentir na alma porque essa galera fazia tanta questão de ir até lá. Tinha só uma igreja e um cemitério pra se admirar, mas era uma obra tão cheia de energia que por mais que eu odeie igrejas não pude deixar de agradecer a Deus por ter chegado num lugar tão “místico”, digamos assim. Na verdade eu não sei mesmo descrever o que eu senti admirando aquelas ruínas seguras apenas pelas árvores, que tomaram de volta não apenas o prédio da igreja, mas tudo o mais que tinha em redor, exceto o cemitério que ainda funcionava nos fundos.

Depois muita admiração, de várias fotos, descanso etc voltamos em direção à Barra do Gil e Mar Grande para nossa jornada final. Gastei mais 50 centavos com tangerinas e agora minha grana era apenas para emergências. Em Barra do Gil eu saí pedalando pela areia dura da maré baixa, de saque nas gracinhas que desfilavam pela praia, numa sensação total de liberdade e desapego. Passamos pelas ruínas de mais alguma coisa do Império, acho que um engenho, ou sei lá o que e, depois de esperar o conserto de mais uma bike quebrada, chegamos finalmente em Mar Grande para o almoço e a volta pra casa.

A essa altura eu já tinha interagido com algumas pessoas e a sensação de “estranho no ninho” havia ficado para trás. Sentamos todos juntos, bebemos cervejas, brindamos, conversamos horrores, contamos histórias, enchemos o bucho e, na hora da menina passar meu cartão para pagar meu almoço, acidentalmente ela passou 10 reais a mais e teve que me dar em dinheiro, o que aliviou minha dureza, além disso, ainda me deram uma outra parte em dinheiro, pois eu tinha dividido uma moqueca com um brother e agora eu não estava mais duro. Ao levantar da mesa pude sentir toda a dor do tombo que eu levei e a perna estava com aquele roxo “maravilhoso” que eu postei no meu fotolog quando comecei a contar a história.

Fomos para a lancha. Como não caberiam todos em uma só preferi vir na primeira, pois ainda teria que enfrentar mais 15km de pedalada solitária até Pericity. Nos despedimos com a promessa de fazermos ainda muitos passeios juntos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Trilha do Cobre 25/07/09


Cheguei em casa de sexta-feira, às três e meia da manhã de sábado. Às cinco e meia eu teria que ir para o Terreiro de Gaia, casa de Wallace, a fim de encontrar o pessoal pra descermos para a mata. Mata essa que fica entre os bairros de Periperi, Valéria, Alto do Cabrito, Plataforma, Pirajá e mais algum, ou alguns, que eu possa ter me esquecido. Como sempre eu não consigo dormir imediatamente, então fui dar comida a Conhaque, que não poderia comer de manhã, fiz a minha especialidade da madrugada, comi, coloquei um filme no dvd e me deitei a fim de adormecer rapidamente, coisa que realmente aconteceu.
Acordei com o telefone tocando às 7:59. Era J. Tentei ser ágil, mas um programa sobre Golfinhos Rotadores me entreteve em frente à tv por alguns preciosos minutos e eu sequer comi qualquer coisa antes de sair. Minha “pochete-mochila” foi pessimamente arrumada por mim mesmo e esqueci de pegar as garrafas de água, frutas e tudo que poderia ser útil na mata. Também não passei na padaria para comprar pão, ou qualquer coisa para o desjejum, por pura preguiça e cheguei no Terreiro de Gaia muito empolgado com a ida à mata.
A equipe trilheira seria formada por mim, J, Êa, Impuro, Doida e James, além dos cães Conhaque e Sadam, o Cão d’água. Logo na entrada no terreiro os cães se estranharam e conhaque levou algumas mordidas de Sadam e Black, a dona da casa, mas logo conseguimos controlá-los cães e separá-los. Encontrei apenas J, Doida e Impuro. James não atendia o celular e quando atenderam disseram que ele esqueceu em casa. Êa disse que acordara e vira o céu nebuloso e achou que não iria dar mata, por isso ficou dando uma força ao seu pai em algum serviço caseiro. Foram chegando outras pessoas no Terreiro, mas ninguém que estivesse animado em fazer a trilha e aos poucos a equipe também foi esmorecendo.
O Impuro foi o primeiro a desistir alegando afazeres conjugais. James apareceu, mas já estava decidido a não descer, pois para ele deveríamos ter saído mais cedo. Ralo, que havia quantizado para a mata dar certo chegou também, mas com duas panelas de barro na intenção de fazer uma feijoada. A doida também já havia desistido quando o meu celular tocou. Era meu irmão me avisando dos perigos da mata, que fulano de tal foi levar um curió e foi roubado etc. Expliquei que ia com uma equipe grande e que ainda iriam 2 cachorros, que ele não deveria se preocupar e pensar sempre em coisas positivasQ1.
J estava conversando com alguém, quando eu anunciei que também havia desistido, porque estava sentindo muita energia e pensamento negativo em volta dessa trilha, e já estava me sentindo mesmo incomodado com aquilo. Ele me olhou um tanto surpreso, mas em nenhum momento fez alguma censura. Terminou o seu diálogo e disse que estava indo assim mesmo. Nesse meio tempo, eu havia telefonado para casa avisando que não iria mais e que ninguém tinha com o que se preocupar, mas quando J anunciou que iria mesmo sozinho, eu, prontamente, disse que iria também. E Saímos apenas os 4: Eu, Conhaque, J e Sadam.
No caminho, a poucos metros do Terreiro de Gaia, Conhaque apresentou sinais de que não estava bem. Começou a golfar, mas nada saía, apenas água, que ele bebera muito no Terreiro, uma espuma parecida com a que eu golfo quando acordo de ressaca (mas pensei besteira) e restos de ração. Minha preocupação voltou e eu já começava a pensar que ir era mesmo uma péssima idéia com mais essa “quizira”. Mas conhaque parou de golfar e voltou a caminhar alegremente, tentando alcançar Sadam a fim de brincar, ou devolver a porrada, sei lá.
A caminhada era bastante longa: 1km no plano, do Terreiro de Gaia até a ladeira de Mirantes; 1km de subida até Mirantes, de onde encontraríamos a trilha para invadir o matagal que não fazíamos idéia da distância. Antes da subida de Mirantes Conhaque já demonstrava cansaço e queria parar a cada sombra. Realmente fazia um certo calor, e ele, que não costuma caminhar tanto, devia estar exausto, coitado. J também não lembrou de trazer as outras garrafas de água e viera apenas um litro de água para nós 4.
Quando terminamos de subir Mirantes, Conhaque começou a golfar novamente e novamente eu pensei em desistir, mas lembrei que ao entrar na mata toda aquela energia iria mudarQ1 e ele melhorou novamente, e nós entramos. Nos primeiros metros de trilha soltamos os cães e eles puderam correr livremente, mas não por muito tempo, pois foram aparecendo pessoas. Primeiro um “brodinho” com cara de fugitivo, depois um velho mateiro cheio de cachorros, que seria o nosso primeiro oráculo, mas por estarmos segurando nossos cães nem pudemos trocar uma idéia.
Passamos um curto trecho de floresta e chegamos em uma clareira. Foi o primeiro ponto onde paramos para descansar e admirar a paisagem. Havia uma nascente de água atrás de um bambuzal semidevastado onde os cães se refestelaram e voltaram para descansar aos nossos pés. Conhaque tinha um palmo de língua para fora, mas estava com uma cara tão feliz... alguns poucos minutos depois ele já corria como um louco pelo campo com o outro cão igualmente bêbado dos efeitos da mata.
Depois da pequena pausa, nenhum de nós sentia nenhum tipo de cansaço ou indisposição, queríamos apenas nos aprofundar mais nos encantos e mistérios da mata que estava em nosso redor, mas não sabíamos bem por onde começar. J sugeriu uma trilha para o norte e lá fomos nós. Passamos por um caminho que chamamos de “Tubulão”, uma espécie de túnel formado pela vegetação. Um pouco à frente havia um entroncamento e decidimos ir pelo caminho que se iniciava pelo “parque de bromélias”. Em um dado momento, Conhaque me chamou para que eu passasse ele por um tronco que ele, apesar de saltador, não queria pular de jeito nenhum. Mostrei a ele como se fazia, mas ele queria que eu o carregasse. Não faço idéia do porquê disso, mas não cedi à sua súplica e continuei andando e camando por ele que não me seguia. Até que eu voltei um pouco e o encontrei num lugar totalmente diferente (ele havia dado a volta no tronco) no meio do matagal. Chegamos num lugar que já havia sido batizado antes de “Santuário das Jaqueiras”. Detentor de uma paz divina e de uma beleza inigualável. Com árvores tão grandes como prédios de 20 andares, com troncos largos e finos e de onde podia se ouvir o canto de todos os pássaros e até mesmo das próprias árvores, que pareciam brincar entre si com o bailado de suas copas bem no topo do céu.
Continuamos em frente, tirando as teias das diversas espécies de aranhas que encontramos pela trilha (deveriam estudá-las), fomos descendo o vale seguindo, além do nosso, o instinto dos cães que se mostravam cada vez mais empolgados, e, finalmente, encontramos o rio do Cobre numa visão realmente de perder a voz.
Os cães não perderam tempo e se jogaram na água, eu e J ficamos admirando o rio e olhando em volta, algum outro lugar onde pudéssemos também entrar no rio num local mais claro e aberto, pois ali deve habitar ainda jacarés e sucuris. Nesse mesmo instante lembrei de tirar os cães da água até que estivéssemos num lugar mais aberto. Sadam não demorou a aparecer, mas conhaque não havia conseguido subir. Ainda pude vê-lo nadando ainda para mais longe pela beira do rio, mas ele não se voltava e não parecia querer me dar atenção, ou simplesmente não me ouvia, o fato é que ele simplesmente desapareceu.
Sadam entrou novamente na água, creio que a fim de procurar seu amigo, mas o chamamos de volta e ele não conseguiu subir. Não conseguia passar por um tronco que estava em seu caminho e não conseguia contorná-lo, foi ficando cansado e começava a tomar uns “caldos”. Nessa hora a minha preocupação com Conhaque atingiu o ápice, pois Sadam era um cão bem mais experiente. Descalcei os tênis, tirei a pochete, e me joguei no rio com o celular no bolso, mas consegui resgatar Sadam. Conhaque continuava desaparecido.
Desde sempre eu ouvia histórias de ataques de sucuris e jacarés pelas bandas dos brejos de Periperi e adjacências, mas isso nunca me assustara tanto como naquele momento. Chegou a passar pela minha cabeça e pela de J que Conhaque podia ser atacado por um desses animais, mas como eu não cheguei a ouvir nenhum gemido, ou latido minha esperança de encontrá-lo vivo era praticamente uma certeza. Não via nenhuma trilha seguindo a beira do rio, mas tornei a calçar o tênis para continuar a busca por Conhaque, que não emitia nenhum sinal audível. Quando calcei o segundo pé, fechei os olhos e uma tristeza me abateu. Vi em minha mente a imagem de um cão boiando, morto, preso na vegetação da margem. Levantei a cabeça ainda com os olhos fechados e o pranto me chegou às orelhas, ou direto à mente, eu sabia que Conhaque me procurava e tinha que encontrá-lo. Levantei-me e pus-me a abrir uma trilha pela margem com o meu cajado mágico, gritando por Conhaque e tentando não perder o rio de vista.
Paramos para tentar escutar algum sinal de Conhaque e ouvimos um uivo. “Era ele!”, eu não tinha dúvidas. Segui a direção do som e ele soltou mais um uivo ainda mais claro, poucos metros depois pude vê-lo já fora d’água, cercado por uma espécie de planta cipó que se vê por toda floresta. Ele estava bem e conseguiu logo achar uma brecha e vir me dar um verdadeiro abraço. Ele estava muito feliz por ter nos encontrado e nós jamais saberemos pelo que ele passou nesse tempo sumido, mas eu sei o que passei e o quanto aquilo era maravilhoso eu não poderei descrever, por mais que eu fale de ter acordado tarde, de várias pessoas terem desistido, do fato de até meu irmão ter me ligado preocupado com essa mata, e de até o próprio Conhaque ter passado mal antes de chegarmos nela, não sei como eu agiria perante todos, ou perante mim mesmo, sei lá. Sei que aquele foi um momento mágico, místico, transcendental, fenomenal, benevolente, superlativo, espetacular, fabuloso...
Já tinha meu cão de volta e não queria mais olhar para “a cara” do rio. Saímos dali rapidamente e encontramos o que J chama de “Árvore de Deus”. Uma árvore imensa, que tinha uma outra árvore como parasita igualmente gigante. Paramos para um novo descanso e para nos refazermos dos últimos acontecimentos: Perdi meu cajado mágico quando encontrei Conhaque e me celular tomou um banho e não devia mais voltar, mas eu estava na verdade muito feliz por não ter perdido meu cão e por Sadam, Conhaque, eu e J também estarmos vivos e bem.
O despreparo para a trilha foi geral. Comemos uma tangerina e bebemos água durante a parada e foi tudo o que a gente comeu durante todo o percurso, havia esperança de se encontrar uma jaca, mas nada. Admiramos um pouco mais a “Árvore de Deus” e continuamos o nosso caminho, ou pelo menos tentamos, porque perdemos a trilha e deixamos os cães decidirem por onde irmos.
Eles nos levaram por uma trilha que descia novamente um vale, mas algo me fez sentir a presença de mais alguém. Chamei Conhaque, Sadam também ficou atento e tentamos escutar a mata para identificar algum som estranho a tudo o que a gente já estava acostumado a ouvir, mas nada. Descemos pela trilha e encontramos um homem parado no meio do caminho com um saco e um facão no chão, um tanto desconfiado e o cumprimentamos.
Seu nome era Nailton e ele nos deu algumas informações valiosas sobre a mata e suas trilhas e disse que estava parado ali pegando água que descia do monte formando um pequeno riacho. Contou que aquele riacho aparecia apenas no período de chuva e sua água era pura e milagrosa. Segundo Nailton, algumas pessoas utilizam aquela água para beber e também pra banhos medicinais, pois se acredita que aquela água possui propriedades curativas. Claro que aproveitamos para encher a nossa única garrafa de água e nos hidratarmos mais um pouco, além de dar um banho nos cães pra livrá-los de alguma doença que eles pudessem contrair (cada um crê no que quer quando acha mais conveniente)Q2.
Nos despedimos de Nailton e passamos a chamá-lo, entre nós de oráculo, visto que ele estava ali justamente para nos mostrar que nada de mau poderia nos acontecer naquela mata a não ser que nós mesmos nos descontrolássemos ou faltássemos com respeito à mesma, menosprezando sua imponência, importância e magia. A mata era auto-suficiente e nós ali éramos apenas uns animais como quaisquer outros.
Voltamos pela trilha e encontramos o caminho pelo qual havíamos entrado, chegando ao “Parque de bromélias” e o caminho que levava ao Tubulão, mas ainda havia uma outra trilha que ia para o outro lado e lá fomos nós ver o que nos esperava. Paramos para admirar alguns formigueiros na beira da trilha e testamos o barro que as formigas escavaram, que era de uma textura que dava vontade de esfrecar no corpo, mas continuamos nossa caminhada. Andamos alguns metros apenas admirando a paisagem, mas eu comecei a sentir algo me picando a canela. A princípio não dei muita atenção, mas o negócio começou a incomodar a vera. J disse que eram formigas, que ele as tinha visto quando a gente parou para a dmirar o barro, levantei a calça, não vi formiga, passei as mãos pelas pernas e continuei andando resistindo ao pinicar até que ele desapareceu. Encontrei um novo “cajado mágico”, maior e mais firme, que me ajudou ainda melhor a me apoiar e me livrar das plantas que invadem as trilhas querendo nos arranhar. Descobrimos que esse caminho ia muito além da nossa disposição, e também já estava ficando tarde. Havia uma feijoada à nossa espera e resolvemos voltar pra casa, passando novamente pelo ponto onde observamos os formigueiros, onde eu pude observar que todo o chão estava coberto de formigas miúdas, o que nos levou a passar por ali numa velocidade que nos classificaria para a final dos 100 metros rasos. Deixei meu novo cajado apoiado numa pequena árvore para quando eu retornar. Não queria levar nada da mata, pois entendi que já tinha tudo o que precisava.
Poucos minutos depois de entrar em casa, alguém me chama do lado de fora. Era Antônio Cláudio me avisando que no dia seguinte ia haver uma volta ciclística pela Ilha, com saída marcada para as 6 da madrugada, após um café da manhã que seria servido às 5:30 no QG de um dos grupos de pedaladas do bairro. Confirmei minha presença visto que naquela noite eu não teria speed para mais nada além de dormir cedo.

sábado, 1 de agosto de 2009

Questão de minutos

Um minuto atrás eu tava no portão pra sair de casa, no outro minuto eu tô aqui sentado porque começou a chover e se não passar no minuto seguinte meus planos podem mudar drasticamente.

Se chegue

Nome

E-mail *

Mensagem *