sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Levanta esse astral, meu brother!


Levanta o astral!

Ponha uma camisa, a mais curtida
E cuide de estar cheirando bem
Limpe os sapatos,
dê um grau no cabelo também
Você parece (tente não parecer) um passarinho caído
Levanta esse astral

Mesmo que não veja amanhecer
Encontrarás um belo novo dia
pode ser o mesmo sol
Mas sempre traz alguma nova alegria
Apague essa luz
E aproveite a luz do dia
Levanta esse astral, meu jovem
blues

Ponha sua camisa mais bonita e tente estar cheirando bem
Limpe os sapatos dê um grau no cabelo, jovem
Você está meio caído
Levanta esse astral, meu brother

Se você não pôde perceber, lá fora está um novo dia
Lá está, o mesmo sol, mas ilumina com uma nova euforia
(todo dia sempre traz alguma nova alegria)
Então, por toda essa vida que ele produz
Levanta esse astral, meu brother
Blues

Levanta esse astral
Levanta esse astral

Se ela te levou todo o dinheiro
E isso te tirou a paz
Dê um basta nisso, mas não vá ser mau, meu rapaz
Se lembre que você não é nenhum bandido
Levanta esse astral fudido!

Limpe o cinzeiro
Faça um beckão
com as pontas
Chame o tanto de putas
que acha que pode dar conta
Pegue umas cervejas
Diz pro irmão botar na nota
Vá dormir chapado
Nada disso o incomoda...
Pego minha camisa mais fresca e parto a mil no pedal
Na primeira parada uma cerveja
E o fio da puta logo pensa que eu tô passando mal
Mas comigo não tem essa de passar bem ou mal

Levanta esse astral
Vale até surtar se for
Na moral
Pra enxergar melhor acenda logo uma luz
Levanta esse astral, meu brother!
Blues

Levanta esse astral
Levanta esse astral

domingo, 18 de setembro de 2011

Idio"Tia"

Certa vez na primeira série, a "Tia"(professora) pediu para os alunos pegarem um lápis e lhes deu uma folha de papel ofício para que estas escrevessem algo que ela iria ditar. Houve muita algazarra naquela sala cheia de crianças ávidas por aprender algo mágico do mundo das letras, da leitura, da ciência, ou de qualquer coisa que se tratasse, na verdade, para essas crianças logicamente tudo não passava de brincadeira séria.
Depois que todos se acalmaram e pegaram seus papéis e lápis, a "Tia" lhes disse: "Escrevam a letra A".
John, o mais empolgado da turma tascou-lhe o lápis no papel e fez um "A" perfeito, gigante, lindo, digno de nota dez. Mas a "Tia" achou que aquele menino estava "trollando" e tascou-lhe para a sala ao lado. Houve perplexidade da parte de John,  que não fazia idéia que cometera seu primeiro crime, como também não fazia idéia que a sala ao lado era a da pré-escola.
Resignado, ele se encaminhou para a sua nova sala um tanto triste, pois naqueles poucos minutos, no primeiro dia de aula ele já travara amizade com alguns dos coleguinhas. Na nova sala, ele percebeu que as crianças eram menores, mas em sua cabeça infantil era apenas uma sala de aula como qualquer outra, com uma "Tia" dizendo o que os "sobrinhos" deveriam fazer e o que não podiam fazer. Mas a essa altura o pequeno John já não sabia se podia mesmo fazer o que lhe pediam, pois, já nesse tempo, ele percebeu que as pessoas não eram muito pacientes.
No intervalo para a merenda houve um certo rebuliço na sala de professores. O assunto era o pequeno John.
- Aquele garoto não tem condições de acompanhar os alunos da primeira série. Disse a 1ª professora.
- Eu não sei. Acho que ele é muito inteligente pra ficar com os meninos do pré.
- Mas eu lhe pedi pra escrever uma letra e ele usou toda uma folha de papel. Você sabe como é escaço o papel aqui na escola. Não podemos gastar uma folha por letra.
Nesse momento a diretora da escola, uma mulher de caráter e bom-senso incomuns para a época, apareceu e tomou parte da situação.
- Alguém perguntou ao garoto o porque dele ter feito isso?
- Mas ele só tem 6 anos e mal sabe falar. Retrucou a tia da primeira série.
- Eu mesma vou conversar com ele. Finalizou a diretora.
Na volta do recreio, o pequeno John não se encontrava em nenhum lugar. Ele havia pedido para o seu irmão, que também estudava na escola, para o levar para casa.
No dia seguinte, John se recusava a voltar a escola. Sua mãe foi até lá pra saber o que estava acontecendo com seu filho, que sempre teve sede de aprender e mesmo antes da alfabetização já conseguia ler algumas palavras e até mesmo fazer contas, o que era impossível para ela própria acreditar, pois nenhum dos seus irmãos mais velhos aprendera tão cedo a identificar as letras, formar palavras e fazer contas.
A diretora, coitada, não fazia idéia do que lhe dizer...
- O primeiro dia de aula é assim, mãe, as crianças às vezes inventam histórias, sabe como elas fantasiam...
E lá foi John de volta à primeira série, para o desgosto da "Tia" que o rebaixara.
Ao entrar na sala, a gurizada era só riso, algazarra e "aluguel". O pequeno John estava sério, calmo e até mesmo sorridente. Um dos seus coleguinhas perguntou o que acontecera e John respondeu com a simplicidade de uma criança:
- Acho que a tia não gosta de mim. Ela me deu um papelzão danado pra escrever só uma letra... aí eu escrevi.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Senhor motorista, respeite o ciclista!

Embora existam hoje muitas mulheres pedalando pra lá e pra cá o dia todo, acredite, meu caro amigo, animal, que comanda o animal, mecânico, de quatro rodas, a grande maioria delas  não deve ser sua mãe, pois eu creio que, assim como eu e todos os outros animais, temos apenas uma única, mas, se mesmo tendo mãe o senhor não aprecie o gênero feminino, não é necessário maltratá-las. Quanto aos ciclistas machos (eu posso falar por mim, que não tenho filhos, logo não serei eu o seu pai, e não tenho nada com seus problemas, e nem quero.), vocês não precisam ter medo nem ódio. Não andamos de bicicleta pra atrasar a sua vida, ou para lhe causar algum transtorno. Só queremos nos locomover com liberdade. Tira a porra da da mão da buzina, não precisa buzinar 20 vezes!!! Por que não reduz a velocidade um pouco e se acalma? O freio é tão eficiente quanto o barulho, quando a gente quer evitar um choque.
O trânsito, meus amigos, não pertence a este ou aquele, ao carro maior, nem ao mais apressado. Ele não é nosso. O vai-e-vem existe porque nada nesse planeta fica parado, não é verdade? Então me diz porque é que eu tenho que me fuder pela sua pressa? De acordo com a lei vocês devem se manter a uma distância de 1,5m de qualquer ciclista. Cheguem pra lá!
Desculpem a agressividade com que escrevo, mas não é gostosa a sensação de ter a vida em risco por causa de pessoas que, por estarem atrás de um volante, acham que podem literalmente passar por cima das outras.
Mais respeito!
Mais calma!
Mais prudência!
Mais amor!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Encha de vento um pote vazio e logo ele se esvaziará

Alguém disse uma vez que eu perco muito tempo com as pessoas sem nenhum interesse. Isso se tornou pra mim um enigma, mas pensando bem acho que isso não é uma observação sobre mim e sim uma constatação de que a cada dia as pessoas dão menos importância à camaradagem pura e simples. "Você tem que querer sexo, ou grana, ou  algum privilégio. É disso que tratam as relações humanas não importa em que lugar, ou situação você se encontre. Se você não está procurando por isso está perdendo o seu tempo." Essa é uma sentença que martela a mente de muitas pessoas, mas não a minha. O dinheiro vem com o trabalho. É o fruto que mais cresce e mais se deseja desfrutar; o sexo vem em qualquer oportunidade e ser privilegiado não é nem mesmo uma opção, aliás, é sim, mas uma escolha que você faz a qualquer momento de sua vida, basta se achar merecedor e isso não tem nada a ver com seus atos meritórios.
Eu me acho merecedor de várias coisas, mas, mesmo que isso seja uma espécie de delírio, não vou jamais achar que não mereço. Também não posso achar que sou mais merecedor que o meu amigo que está mais próximo, ou mesmo um estranho que simplesmente aparece na cena. Nada disso! Todos merecemos ser mais felizes e devemos proporcionar mais felicidade sem nenhum motivo especial. É o que eu penso.
Eu observava aquela garota, quase do meu tamanho, saindo da água na praia do Buracão. Ela veio, pegou sua bolsa, tirou o bronzeador e deu uma olhada panorâmica querendo, quem sabe, alguém para lhe passar o óleo. Talvez ela só estivesse esperando a água escorrer para poder passar ela mesma, mas era uma cena tão sugestiva que não pude deixar de comentar com o camarada ao lado, que também a observava. Ela não podia nos ver, infelizmente, ou não quis olhar pro lado de cá, vai saber? Tinha um outro cara bem próximo dela, esse com certeza ela viu e por coincidência era nosso brother.
Fizemos-lhe sinal mostrando a garota, aparentemente aflita, com o bronzeador na mão. Na minha cabeça, não havia nada demais em passar bronzeador na garota. Seria apenas uma gentileza. Mas na cabeça deles e, provavelmente, na cabeça de uma porrada de gente, aquilo seria um pretexto irrevogável para cair na fornicação. (Se vai comer a mulher depois, beleza!) Mas creio que ela de repente queria apenas passar óleo no corpo e fritar ao sol. Talvez quisesse conhecer alguém e trepar como uma louca (E daí?!) Eu não tenho poderes paranormais, mas posso imaginar várias coisas. Ela pode não estar a fim de nada.
Eu não consigo pensar em nada mais belo que o corpo feminino, mas minha opinião sobre a beleza é muito ampla. Nesse mesmo dia um cachorrinho veio se aquecer junto a mim, pois a dona dele o havia jogado na água, mas apesar do sol o vento era bastante frio e aquele pobre animal tremia como em delírio febril. Acariciei-lhe e tentei aquecê-lo um pouco como se fosse o meu cachorro, meu Conhaque. Sua dona veio e o levou e trocamos ainda algumas breves palavras sobre cães e o clima e nada mais, mas achei aquilo tudo muito bonito, e aquilo me fez ficar mais alegre, com mais vontade de ter uma tarde esplêndida, talvez arrumar uma doida pra dividir uma pizza, ou simplesmente, como mais comumente acontece, aproveitar o tempo com os amigos da melhor maneira, seja enchendo a cara, seja tocando violão, ou jogando conversa fora e rindo sem parar até a hora de tocar o bonde pra casa. Isso também é viver.
Voltando à menina com o bronzeador, meu amigo não foi acudi-la, ninguém foi e ela se deitou sobre sua canga, talvez pensando que não era atraente o bastante, talvez pensando no 11 de setembro, talvez pensando em coisa nenhuma, não tem tanta importância, pois aquele momento, mágico para mim, havia se tornado uma lembrança irritante, mas vocês acham que eu me abalei com a "viadagem" alheia? 
Uns minutos depois eu estava sentado à "cabeceira", por assim dizer, de duas gracinhas que se bronzeavam alheias a qualquer coisa até que eu lhes pedi licença e comecei a tocar o violão dos outros e cheio de amor pra dar. Virou uma festa.
Rita Lee diz: "pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesmo faço" e, analogamente falando, eu também sou assim: Se estou interessado numa garota, interessa a mim e a ela. Não vou esperar que meu amigo taradão se apresente pra me apresentar. Se eu não tenho um interesse especial, é mais do que justo que um amigo seja favorecido pelo simples privilégio da localização. A mim importa que a mulher esteja feliz e permaneça, seja com minha presença ou ausência; com meu som, ou o silêncio, ou meu pau, enfim... Eu sempre preferirei um sorriso, ainda que de despedida, pois nada é mais belo que o riso sincero de uma mulher. E falo isso com neutralidade.
Essa semana, minha vizinha ficou presa fora de casa, pois a fechadura emperrara. Me chamou para tentar arrombar, ou dar algum jeito. (Por algum motivo eu pareço ser alguém que leva jeito pra essas coisas,  falo de "resolver  aparentes complicações".) Deve ser uma espécie de dom que eu tenho, o fato é que após abrir a porta, simplesmente colocando a chave da maneira correta, seu sorriso de quem há duas horas esperava algum socorro, dissipou todo o meu desconforto com o contra-tempo não esperado. Cheguei mesmo a dizer que a odiava, mas aquele sorriso tão puro, de sincera gratidão, tão bonito, tornou meu desnecessário aborrecimento pelo dia absolutamente caótico em um dia de imensa beleza e poesia. Posso dizer que ainda hoje, quase consigo sorrir só de pensar nele. Imagina só? Um sorriso?
Às vezes deixamos pequenas coisas sem importância nos abalarem tanto que ficamos cegos, simplesmente, para as coisas que nos fazem ter a certeza de que essa vida vale a pena...
...um sorriso, um pôr do sol, um bicho de estimação, uma punheta, uma foda, dormir de conchinha, uma música boa que você nunca tenha escutado antes, cada coisa, a cada segundo de nossa existência ordinária deve ser vivido com extrema atenção às sutilezas, pero sin perder la dureza, com ternura. É disso que se compraz o espírito humano.

às vezes é simples



De manhã eu pensei: "cachorro quente no pão francês". Mas só me lembrei disso horas mais tarde. Já tinha pensado em comprar pão e ir pra casa comer o cachorro quente, que fizera anteontem, mas enquanto eu fazia descobri que não tinha pão e acabei fazendo um macarrão pra comer com a salsicha. Ficou delicioso!
Ontem eu nem lembrei, nem tive chance de comer a porra do cachorro quente, mas comi de novo macarrão com salsicha e, de madrugada, estava ainda melhor. Na larica noturna tudo fica mais gostoso mesmo gelado.
De manhã, ontem, eu pensei: "cerveja", aí o telefone tocou: 
- Cerveja no bar de Everaldo agora! 
Porra! O que é que eu vou fazer? Vou comprar o pão, enquanto é cedo, porque depois vou acabar esquecendo.
Aí eu comprei o pão e levei pro bar. Ele ficou ali esfriando.
Chegou outro brother, mais cerveja, outro brother, mais cerveja,  e a gente tomou mais umas 20.
Aí eu fui pra casa comer meu cachorro quente com o pão frio.

Inclassificável, "me"?

Eu fico pensando em me tornar um outro animal que não esse ser humano feio, sem noção de realidade, insensível e descontrolado. Isso insulta a própria noção de humanidade. Mas é assim que eu me vejo, e é assim que o mundo me enxerga.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Literatura e outras desventuras

Schopenhauer, em algum momento da sua "Arte de Ecrever" (Parerga e Paralipomena) diz que é bom que se faça uma pausa na leitura para que se consiga escrever bem; é preciso ter a mente livre de estilos literários, vícios de linguagem, técnicas mirabolantes de grafia e pontuação etc. Eu tento escrever, mas não consigo encontrar maneira quando estou lendo alguma coisa. Parece que a leitura acaba se tornando mais importante que tudo, basta o livro ser bom.
Eu fico fascinado com a forma como alguns escritores constroem o perfil psicológico de um personagem, com todos os detalhes sórdidos de seu caráter, como o Dostoiévski; a descrição de um praça, vila, rua; a definição de uma bela moça, como o Machado de Assis e tantas outras fórmulas mágicas de se fazer o leitor ir onde não tem um caminho, mas que quando se alcança se pode voltar sem se perder. Isso é arte. O que eu escrevo é só desgraciosidade mesmo. Precisa de muita inspiração.
Às vezes eu quero contar uma história, mas fico tão sem vontade de fazê-lo, quando me dou conta que é uma bobagem desinteressante, que me abstenho. É que enche o saco falar de minha vida cheia de aventuras desventurosas. Parece que eu estou tentando convencer a alguém que sou um pobre infeliz, e embora eu saiba que isso não tem verdade nem importância, ainda tenho o problema de que eu não me sinto capaz de fazer de uma história banal algo interessante. Pra piorar eu tenho uma péssima memória e uma paciência bem pequena para descrever profundamente qualquer situação, pois minha peculiar maneira de enxergar o mundo me torna um panaca de marca maior.
Shakespeare e Garcia Marquez têm inspirações diferentes para uma tempestade e em ambas pode-se sentir o cheiro do vento e até mesmo alguns pingos a molhar o rosto, mas quando chove em minha mente parece que tudo morre afogado, inclusive a história. 
É uma loucura. 
Não é literatura.
Dia desses saindo da Lapa, um maluquinho veio caminhando ao meu lado me me pediu 2 reias...
- Porra, man! Eu só tenho os 2,50 que vou pra casa.
- É niuma! Eu tô até armado aqui, mas eu tô ligado que você é favela...
- É, man! Correria da porra!
- Fique na sua, véi! Precisa correr não...
- Porra, man! Eu ando rápido!
Cheguei na casa da figura tão puto com o maluco que me esqueci completamente o que tinha ido fazer lá.
Fiquei me lembrando do dia que assaltaram o buzu a facão e de como eu agradecera a deus por não ter ninguém com arma de fogo, o que transformaria o assalto numa carnificina; pensei em mim portando arma de fogo no momento em que o maluco se declarou armado. Tive raiva por não portar, depois tive raiva de não lhe bater, e mais raiva por não ter lhe dito nada de mais inteligente, ou talvez qualquer conselho idiota que fosse lhe mudar a vida... fiquei com muita raiva de mim, mas guardei.
Dois dias depois, uns brothers passaram lá em casa tarde da noite a fim de trocar uma idéia, e como em casa é difícil, fomos ao cais fumar um e falar da vida. Nem dei dois tragos, a polícia aparece e o beck é jogado na maré...
- Mão na cabeça todos 3! O que é que vocês tão fazendo aqui uma hora dessas?!
- Eu tava em casa e o brother passou lá depois do trabalho pra trocar uma idéia...
Baculejo pente-fino. O maluco passeou a mão por meu bolso umas 15 vezes procurando não sei que porra se a única coisa que podia não ser reconhecida apalpando eram duas cédulas (2 e 10 reais).
- Você mora onde?
- Mirantes
- E você?
- Periperi
- E você, negão?
- Aqui mesmo em Periperi. - Era uma resposta cretina, visto que a gente estava na frente da Cidade de Plástico do outro lado do bairro, mas ele não queria meu endereço, queria mais era encher o saco.
- Ó seu dinheiro aqui. - disse o policial enfiando novamente a mão em meu bolso colocando de volta os 12 reais.
Eu estava mais uma vez puto de raiva porque, como na Lapa, eu não procurei alimentar conversa e, como também naquele dia, acabei ficando de cara. Os caras foram embora depois de falar um monte sobre a maconha, o tráfico na CDP(que ele provavelmente não sabe que não existe mais há um tempo) e até sobre viadagem os animais fardados falaram...
- Fica aí no cais uma hora dessa, 3 caras... 
Voltei pra casa mais uma vez puto. Fiquei com um sentimento de fúria silenciosa.
No dia seguinte eu tive a iluminada sensação de que o mundo não estava contra mim, na verdade eram avisos de que algo muito maior iria acontecer, talvez algo bem ruim. Várias vezes eu me livrei de acidente assim, mesmo sem saber como havia chegado à conclusão de que não deveria fazer determinada coisa.
Desde o dia 1º de abril eu tenho sofrido uma série de desventuras, e em todas vieram sinais anteriores que eu deveria ter seguido em frente sem pensar muito nas conseqüências, pois tudo sempre acaba bem. E a verdade é que mesmo perdendo coisas ainda vale a pena ter essas histórias pra contar. Na maioria delas não há beleza alguma, nem sentimento, nem nada. Tudo o que pode acontecer é o que acontecer daqui pra frente e isso pra mim basta. 
Eu não acredito que Schopenhauer esteja certo em julgar que a leitura atrapalhe a escrita, pois a qualquer momento o indivíduo pode não ter mais a chance de escrever e suas idéias, mesmo que ainda não estejam plenamente formuladas, podem, e devem, ser ao menos consideradas.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Praia, cães, nuvens, pessoas carrancudas...


Após um breve passeio pela praia quase deserta, invadida apenas por uns poucos atletas e pescadores inveterados, que não temem um pouco de vento e a fina garoa que caía, na manhã fria desta terça-feira, pude verificar, para meu desagrado, que as pessoas são os animais mais irracionais do planeta, pois fazem coisas as quais não tem nenhuma justificativa e a justificam de uma maneira ilógica.
Enquanto Reiko caminhava livre ao meu lado tranquilamente, uma dessas atletas de estação, que se preparam no inverno para terem o corpo sarado no verão do “pecado”, da tentação e da putaria, se aproximou de mim e perguntou-me se o cão mordia. Respondi-lhe que não, mas que, no entanto, era muito brincalhona, neste momento, Reiko se acercou dela, farejou-lhe as partes e quis fazer amizade, pois via que eu interagia com a moça. Não tinha uma atitude agressiva estava apenas curiosa. Sempre achei que seria muito engraçado se as pessoas também fizessem isso para se cumprimentarem: “Oi, amigo! Hum, você está comendo muito feijão...” mas os cães também não falam, vai ver por isso precisem se cheirar tanto. Tenho a impressão de que nosso cheiro diz muito mais a nosso respeito do que quaisquer palavras que possamos inventar, mas nossa capacidade, ou talvez a vontade, de perceber no cheiro das coisas ficou perdida em algum lugar da nossa evolução. Pode ser que simplesmente não nos damos conta, mas os caninos, sim. Chamei-lhe junto a mim, o que ela fez sem nenhum esforço, madame continuou seu cooper praguejando contra mim e a cadela que deve tê-la assustado deveras, pois se trata de um animal razoavelmente grande. “Devia deixar na coleira!” Disse ela por fim. “Quem deveria ter uma coleira era você, sua puta!” pensei  eu, mas me envergonhei no mesmo momento.  Que culpa tem ela se no mundo em que vive as pessoas tem o hábito de determinar como o outro deve dirigir a própria vida?
Eu era um “negro” com um “vira-lata”, ou poderia ser um “artista” com seu “pet”, ou um “adestrador”, ou mesmo um “marginal” com seu “mascote”. Ela poderia ser médica, advogada, presidente, garota de programa, que importa? Eu tinha por hábito tentar adivinhar o que se passava na cabeça das pessoas com quem eu cruzava durante os passeios, mas essa curiosidade, simplesmente, deixou de existir, pois no fim das contas era puro entretenimento e às vezes se tornava uma sessão interminável de desagrados, porque mesmo que elas fizessem um mau juízo de mim, isso não me dava direito algum de lhes dirigir palavras. Na verdade eu comecei a não ter mesmo vontade de falar com quem quer que fosse.
Ao atravessar a avenida, voltando pra casa depois de aproveitar um pouco de solidão com vista pro mar, alguns carros avançaram sobre a faixa sem esperar que eu terminasse de fazer minha travessia, mas eu me contive em correr e continuei caminhando calmamente com Reiko ao meu lado, como se fôssemos revestidos de aço invisível. Um motoqueiro chegou mesmo a me olhar nos olhos antes de acelerar sua carniça e partir a mil. Ninguém buzinou, mas na agonia apressada de uma manhã tão sombria que parecia até filme de Tim Burton, eu quase pude sentir o ódio por trás dos parabrisas.
Aí eu chego em casa (casa de Brust) e descubro que é o dia do sexo. “Por isso tanta gente querendo que eu me fodesse”, pensei, mas eu sabia que era apenas um dia normal para todo mundo e a maioria não tá indo nem vindo pra dia disso ou daquilo. Só querem ter a chance de sacanear um pouco mais qualquer desafortunado e praguejar contra aqueles que estão apenas vivendo melhor suas vidas; por nenhum motivo especial, só porque se acostumaram a não querer bem ao próximo, principalmente os que não saem de casa sem um bom motivo pra sorrir, ou servir. Elas odeiam aquelas outras pessoas que não passam o dia inteiro correndo atrás do sucesso que vai lhes tirar da mediocridade que é a vida urbana. Odeiam tanto que nem mesmo percebem que respirar já é mais do que demais; que o sexo é uma troca e não um suborno; que o dia pode ser radiante mesmo embaixo de nuvens opacas; que fazer um julgamento fudido tem remédio, mas uma ação contra alguém, um inimigo desavisado de seu opositor, pode não ter.

Se chegue

Nome

E-mail *

Mensagem *