O inverno, mercado financeiro, preocupações, falta de perspectiva, o que será mais fudido pra a cabeça de um preto? Não tinha grana, não
tinha mochila, não tinha barraca, mas queria viajar pra a Chapada
pra encontrar meu EU perdido e assim poder tocar minha vida de uma
maneira mais decente e segura, pois, falando como um animal e como
gente, nem estava sendo um animal terrestre muito precavido em nenhum
aspecto, nem estava tendo uma vida pessoal normal. Pensava que minha
vida havia chegado ao tipo de caos que nem mesmo um demônio em busca
de aflição como eu conseguia achar mais graça. “Devendo aqui e
ali?” Deus que me livre! Querendo ajudar acolá, salvar além,
estar perto alá, ser atuante augures, onipresente, mas nunca
conseguindo ser útil a mim mesmo em qualquer tipo de situação. Lá
estava, cheio de advérbios e sem nenhuma alternativa pra me salvar
nessa viagem. Pelo menos consegui entender a minha mãe que me
dizia... é..., acho que não vem ao caso.
Os Jurássicos de Bike
iriam fazer uma pedalada junina bem no auge da minha “egonia” e
conversando com Mestre Tetéu cheguei a conclusão de que se eu
pudesse pedalar 3 dias com eles eu poderia ir para qualquer lugar
depois. Eu ainda não tinha barraca e o pedal não ia para a Chapada,
ia para o centro-norte (Senhor do Bonfim) passando pelo Recôncavo da
Bahia. De algum jeito, depois que chegássemos em Senhor do Bonfim, o
ponto mais norte dessa, viagem teríamos que voltar e era nessa volta
que eu pensava em tomar meu rumo de qualquer jeito. Entre um
desespero outro, um casal de saudosos amigos, depois de meses sem
contato de repente me convidam para uma visita à Ibicoara. Imaginei
que se isso não era um sinal do destino me convocando eu não sei
mais o que poderia ser.
Passei uma semana inteira
me preparando para essa viagem, conversando, pedindo conselhos, e só
quando chegou na madrugada de partir é que eu fui começar a juntar
minhas coisas. Achei uma mochila velha, revesti por dentro com um
plástico e comecei a separar a roupa. Devia estar tão agoniado que
pus 4 cuecas, mas só um short e uma calça, duas camisas, dois
agasalhos, saco de dormir e a pochete que está sempre bem equipada
com os itens de pedal e de viagem que inclui ferramentas, higiene,
utilidades, moedas etc. Nenhuma camiseta e esqueci-me de pegar uma
calça jeans, pois é sempre útil; bomba de ar; talvez um outro par
de sapatos seria bom já que não sabia quanto tempo ia ficar
viajando, mais um par de meias, máquina fotográfica, fósforos...
me esqueci de mais coisas do que devia, mas se fosse fácil não era
tão necessário, certamente.
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