Na lanchonete parei
pra comprar um suco tive um breve bate-papo com o dono e
uma moça sobre o pedal e sobre o melhor caminho para Ibicoara. Ela foi bastante
enfática ao falar sobre o caminho por Cascavel que era "muuuuito mais
perto e mais bonito" e que eu deveria seguir por ali, mas eu tinha cá minhas dúvidas. Pelo asfalto eu ando mais rápido, mas pela estrada
de terra eu poderia apreciar paisagens mais incríveis do planeta.
Saí tarde pra um pedal saudável. Fazia um sol formidável e o céu estava claro como gostaria que estivessem as ideias em minha cabeça. Confesso que apesar desse ser o último trecho de minha jornada eu estava me sentindo igual a como saí de Periperi: Completamente sozinho e perdido.
Saí tarde pra um pedal saudável. Fazia um sol formidável e o céu estava claro como gostaria que estivessem as ideias em minha cabeça. Confesso que apesar desse ser o último trecho de minha jornada eu estava me sentindo igual a como saí de Periperi: Completamente sozinho e perdido.
A medida que me afastava
das pedras de Mucugê e descobria as de Ibicoara sentia que todo o
meu corpo ia mudando. Algo que eu não senti em nenhum outro momento
em minha vida, estava perdido, mas me sentia forte, seguro, livre e
feliz. Ia encontrar com amigos queridos que não via a algum tempo:
Mau e Lua, e poderia esquecer um pouco que a metrópole existia.
Procurei um canto sossegado pra tomar meu café da manhã embora toda a estrada fosse sossegada durante alguns quilômetros não havia sombra era só as margens de uma espécie de tomateiros espinhosos e outras plantas baixas umas um pouco mais hostis, outras um pouco mais simpáticas. Ao longe tudo eram fazendas e plantações. Comi meus sanduíches com o suco do “Sr. Deguste”, numa beira de mata confortável. Fiz uma checagem no perímetro e vi que por ali passara algum animal diferente tipo um tatu ou tamanduá, pois deixaram marcas no chão bem estranhas. Observei mais contemplativamente a paisagem e tive um tipo de orgasmo. – As montanhas me pertencem! Eu pertenço às montanhas! Estava indo me reconectar com uma energia que sempre esteve conectada comigo, mas eu não sabia o que estava sentindo. Tomei um susto e meu rumo.
Procurei um canto sossegado pra tomar meu café da manhã embora toda a estrada fosse sossegada durante alguns quilômetros não havia sombra era só as margens de uma espécie de tomateiros espinhosos e outras plantas baixas umas um pouco mais hostis, outras um pouco mais simpáticas. Ao longe tudo eram fazendas e plantações. Comi meus sanduíches com o suco do “Sr. Deguste”, numa beira de mata confortável. Fiz uma checagem no perímetro e vi que por ali passara algum animal diferente tipo um tatu ou tamanduá, pois deixaram marcas no chão bem estranhas. Observei mais contemplativamente a paisagem e tive um tipo de orgasmo. – As montanhas me pertencem! Eu pertenço às montanhas! Estava indo me reconectar com uma energia que sempre esteve conectada comigo, mas eu não sabia o que estava sentindo. Tomei um susto e meu rumo.
Cheguei no posto que fica
na entrada de Cascavel eram 13h. Mais da metade do caminho já havia
sido percorrido agora era só manter o ritmo e chegar suavemente em
Ibicoara e abraçar meus amigos. Como eu não sou um cara de um só
ritmo entrei em Cascavel e mudei a melodia para um toque mais
clássico. Segui a estrada de terra e entreguei meu destino à minha
própria sorte, com ela eu não me perderia e chegaria são e salvo.
O que eu não sabia é que ela tinha planos ainda mais inacreditáveis
para mim.
A primeira
formidabilidade (por onde anda Raquel?) da trilha foi um rio numa
localidade chamada de encantada, queria parar, mas achava melhor
seguir pois com bagagem pedalar por terra não é tão tranquilo. Não me arrependo, mas não aconselho a sair carregando bagagens em vias complicadas. Vi
mais umas duas cachoeiras a uma certa distância até chegar num
lugar inacreditável cujo nome eu não faço ideia, mas era uma queda
de uns 200 metros que escorria fininha por um tubo de uma
mini-represa que fizeram no alto, mas a paisagem não deixou de ser
fantástica. Mas não foi o único lugar que eu parei apenas para
olhar. Segui o barco.
Numa descida muito longa
a uns 50 km/h esqueci completamente o freio da bicicleta e quando
pensei que poderia vir uma curva já era tarde, a curva era fechada
demais e entre me esborrachar no chão ou voar rumo ao desconhecido
optei pela liberdade. Voamos eu e Marieta sobre a vegetação
marginal e naqueles 3 segundos de desespero eu não tive coragem nem
mesmo de fechar os olhos. Ouvi barulho de bicicleta caindo na água e
logo estava eu completamente a salvo e encharcado. A bagagem fez a
bicicleta flutuar e tão rápido quanto caí foi a velocidade com que
tirei Marieta da água e verifiquei tudo. A mancha de óleo na água
era a única coisa que estava fora da ordem. Não me contundi e a
bike não teve praticamente nada a não ser uma pequena peça do
bagageiro que já estava condenada. Não podia olhar o violão, mas que opção eu tinha? Segui o bonde.
Algumas subidas eu não
podia mais fazer pedalando pois a areia na corrente não deixava.
Seguindo a estrada agora mais suavemente, algumas paradas só para
contemplar a formidabilidade da paisagem e o pôr do sol lindíssimo
de cima do morro. Pena eu não ter trazido câmera fotográfica dessa
vez, mas acreditem em mim.
Cheguei em Ibicoara ainda
estava claro. Fui penetrando a cidade e tentando encontrar alguma
indicação de que caminho seguir agora. Perguntei a um jovem como
fazia para chegar em minha localidade e ele me indicou a outra rua,
andando pela outra rua perguntei a uma moça como chegar lá e ela me
disse: “Tome esse caminho aqui direto! Não entre em nada, nem no
posto, e logo um pouquinho depois do posto é essa sua quebrada.” E
lá me fui em direção à saída de Ibicoara enquanto escurecia
depressa demais.
Passei por uma placa que
dava as boas vindas a cidade e fui saindo, nada de posto nada de
localidade e noite entrando. Não estava mais seguro pedalar, era
escuro e eu não tinha nenhuma iluminação além da faixa de
segurança que cruza meu peito e costas. O telefone tocou, mas eu não
conseguia atender, pois era arriscado demais e enquanto ia
anoitecendo eu ia descobrindo a outra formidabilidade perdida: o céu.
A medida que eu me
afastava, escurecia e o céu brilhava e me encantava de uma maneira
que fiquei completamente enfeitiçado, possuído. Não importava a
distância nem o decorrer do tempo. Estava agora empurrando a
bicicleta na beira a estrada fria e aparentemente solitária, mas ia
conversando com as estrelas e elas me entendiam. Algumas não queriam
falar comigo e iam saindo de perto traçando riscos, outras brilhavam
ainda mais esplêndidas e me perguntavam coisas para as quais eu tinha respostas
prontas e seguras e seguimos assim por vários quilômetros noite afora até
que a lua saiu de lá de trás do morro e passou a exigir seu lugar
na conversa. Então montei novamente em Marieta e comecei a pedalar
com segurança novamente. Não sentia frio, não sentia cansaço, não
sentia nada. Talvez uma decepção por não ter encontrado os meus
amigos, mas eu também precisava conversar com meus amigos celestiais
e nessa mistura de encantamento e loucura estava de volta ao posto em
Cascavel. Era meia-noite. Parei numa pousada e perdi o último tostão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aprecio muito!