Bati meu café lá na
pousada de seu “Coisinho” (perdão! Esqueci o seu nome) em
Cascavél e me piquei mais tarde do que eu pretendia pra Ibicoara.
Cheguei eram 10h da manhã. Na verdade eu nem cheguei, pois meus
anfitriões me pegaram ainda na estrada e me levaram de bike e tudo
pra Barra da Estiva para seus assuntos de campo: pás, enxadas,
facões etc. O que eu podia fazer era apenas ajudá-los a carregar o
carro. Quando estava em minha tarefa... Hahaha! Acredita que apareceu
um cara perguntando o número do meu sapato?
- 48 bico largo, man!
- Nossa! Mas um pé desse
com chulé deve feder muito...
- Fede pra caralho! Bom
dia! - E continuei meus afazeres pensando em por quê não apareceu
uma gracinha?
Voltamos pra Ibicoara e
pude conceber a lambança do meu pedal da noite anterior. O telefone
tocara quando eu estava passando pela localidade e era minha anfitriã
quem me ligava, mas como eu saberia? Praticamente não dá pra ver o
posto saindo da cidade, só entrando, e era quase noite, e fica ao
lado de um ginásio que chama muita atenção, e eu estava encantado
do pedal e das estrelas que iam surgindo e fui saindo. Mas voltei e
lá estava. Chegaram ainda mais um casal, umas visitas inesperadas,
enquanto eu dava um banho em marieta e ajeitava o seu bagageiro e
mais alguma coisa e iríamos todos para a roça no dia seguinte,
menos minha Marietinha. Mais tarde, já me sentindo em casa, janta
vegana caprichadamente deliciosa, (ou seria deliciosamente
caprichada?) um chá e saco de dormir.
Quase não dormi, como em
todas as noites em que eu durmo ansioso demais, mas na manhã
seguinte me sentia novo como um broto de couve. Nos levantamos cedo
pra visitar as terras e trabalhar bastante. Queria iniciar algo novo,
proveitoso, produtivo e trabalhar com terra era a melhor coisa que
poderia me acontecer. Fazia tempo que não me sentia tão motivado.
Fomos para as montanhas
conhecer, desbravar terras antigas, habitar terras antigas e se
apaixonar mais uma vez por aquelas montanhas espetaculares. Algumas
são formadas apenas por cristais e em seus pés descansam, ou
tentam, florestas inacreditáveis e lá estava eu com toda a minha
vontade de voltar para o útero de mamãe e nascer ali naquele
paraíso. A estrada ainda estava bastante ruim pois fora reaberta
recentemente e precisava se ajeitar. Esse era (é e será por
semanas) nosso trabalho: carregar pedras, retirar cercas, desviar
águas, coexistir com o planeta que é nosso amigo e precisa de nós.
Nada de medo de onças, cobras ou outros bichos do mato, o único
animal que poderia fazer temer algum mal era o homem e todos os que
ali estavam, machos e fêmeas, estavam com o mesmo objetivo:
construir uma nova civilização amiga e igualitária.
Eu não levei barraca em
minha viagem então na minha primeira noite no mato meu plano era de
dormir numa rede que tomei emprestado. Foi difícil achar um ponto
perto da micro-vila que se formara e eu fui me amigar a umas árvores
um pouco mais acima no barranco próximo a um banco de pedras,
protegido contra o vento e a chuva forte. Limpei o solo ao meus pé e
sem derrubar um arbusto sequer pude montar meu berço aéreo, meu
ninho.
Ao cair da noite nos
reunimos em volta da fogueira e fizemos um jantar colaborativo onde
todos deram algo e a única coisa que eu podia dar era a música, que
já estava até ficando em segundo plano, mas meus planos sempre
trocam de lugar. A paz era tão grande que confesso que senti um
pouco de vergonha de tocar violão num lugar tão sagrado, então
toquei baixinho para não acordar os beija-flores e perturbar a
harmonia. Havia menos estrelas que na noite anterior, mas pudemos
desfrutar de uma noite incrível até irmos dormir.
Quase me perco na volta
pro "ninho" e a chuva parecia que queria nos visitar, mas eu não
queria muito saber de ter preocupação. O que quer que rolasse num
lugar daqueles estava tudo em paz, tudo limpo, arrumado e a floresta,
as montanhas e o céu sempre foram, meus melhores amigos e eu sabia
que poderia confiar em todos eles, então, por umas frestas nas copas
das árvores, pude ver as últimas estrelas se escondendo e também
adormeci divinamente chegando a sonhar com minha mãe e ser acordado
com a chuva me saudando e dizendo: “Acorda, Lindão Thi! Hoje você
é nosso!” mas eu não estava mais nem aí. Estava era me sentindo ótimo!
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