quinta-feira, 15 de junho de 2017

Salve Mucugê!

Cheguei em Mucugê ainda era dia. Parei na primeira pousada que encontrei e fui dar uma volta pela cidade, mas de bicicleta não dava (por causa do chão de pedra) então andei um pouquinho só e entrei num mercadinho pra comprar um lanche pra viagem de amanhã. Voltei, tomei meu banho, preparei meu lanche e saí de novo atrás de uma comida de verdade.
A cidade se enfeitava para o São João montando as barracas todas em madeira maciça bem bonitas e firmes (dei uns tapinhas pra conferir), vi os caras ainda serrando outras toras pra montar as outras barracas. De repente veio de lá a Filarmônica de Mucugê fazendo o som em direção à igreja para a missa e o resgate do Santo que retornaria pro seu lugar de origem depois da trezena. Acompanhei um tanto, mas estava ainda muito devagar, era praticamente só a banda e uns poucos fiéis, ou foliões como eu, acompanhando.
Eu procurava um lugar pra bater o rango, mas só achei restaurantes à quilo com uns quilos caros da porra: 40, 50 reais. Eu procurava um PF decente de 10 contos, mas parece que a cidade é preparada para turistas os barões. (Deus me livre!) Como eu não ia desistir de comer logo achei um bom samaritano que me deu a dica dos quiosques próximos a minha pousada que eu não tinha observado. Encontrei uma barraca de uma anja chamada dona Dorinha, simpática mãe de uma filha ainda mais linda (“de menor”, viu?) que a ajudava no atendimento e serviam PF's de carne ensopada e de filé de frango. Pedi o frango e enquanto ela preparava fui ao outro lado da rua ao que parecia ser uma cachaçaria e era.
Uma senhora já idosa de nome Inês comandava o estabelecimento mais confortável que eu já estive, cercada de cachaças, conhaques e outras bebidas menos importantes. Perguntei se ela tinha erva-doce e ela tinha. Pedi uma dose, dei o primeiro pau e - Que coisa esplêndida! - fiquei apaixonado. Posso dizer que foi a melhor cachaça de erva-doce que eu já bebi em minha vida. Ela me disse que era feita de uma cachaça aqui da região e a erva também era das melhores: “É daquelas erva-doce miudinha.” disse ela. Linda! Matei a dose e deixei outra paga e fui pegar o rango.
Voltei pra barraca pra pegar meu frango. Também estava espetacular. Na volta pra cachaçaria dei de cara com um bate papo animado com uns moradores locais, uma degustação de pitanga preta oferecida por uma moça de nome Patrícia e - lá vem a filarmônica de volta! - Todos mataram suas cachaças e saíram acompanhando o cortejo foi quando a Dona Inês também encerrou seus trabalhos.
Acompanhei a procissão, que agora era numerosa, até um ponto onde fizeram a última reza e recolheram o santo. A banda ainda voltou tocando uns forrozinhos até sua sede e encerrou os trabalhos rapidamente, então voltei pro meu quarto e tentei escrever alguma coisa, mas a cachaça não deixou. Nem lembrava o nome das tias salvadoras da noite, depois o computador ainda travou, então eu dormi.
Já no dia seguinte, um cachorro latiu não sei de que dimensão me dizendo pra acordar. Abri os olhos, tudo escuro, um frio da porra, eu sem reloógio resolvi esperar o sol me chamar, mas ele acabou demorando muito e eu me levantei e fui cuidar de meus problemas. Antes de deixar a cidade ganhei de brinde um suco de cajá maravilhoso da delicatessen deguste, cujo dono acho que lembrava de mim de uma outra visita, mas minha memória...

P.S.: Só umas curiosidades: o termo “santo do pau oco” é do tempo do ouro quando os contrabandistas usavam imagens ocas de santo para contrabandear o minério; hoje em dia algumas imagens não podem ficar nas suas igrejas, pois os "colecionadores" que admiram artes confeccionadas com ouro e algumas pedras não permitem, então as imagens são recolhidas a algum lugar mais seguro retornando apenas em eventos festivos. Fica-se sabendo disso tomando cachaça em Mucugê.

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