Cheguei em Mucugê ainda
era dia. Parei na primeira pousada que encontrei e fui dar uma volta
pela cidade, mas de bicicleta não dava (por causa do chão de pedra)
então andei um pouquinho só e entrei num mercadinho pra comprar um
lanche pra viagem de amanhã. Voltei, tomei meu banho, preparei meu
lanche e saí de novo atrás de uma comida de verdade.
A cidade se enfeitava
para o São João montando as barracas todas em madeira maciça bem
bonitas e firmes (dei uns tapinhas pra conferir), vi os caras ainda
serrando outras toras pra montar as outras barracas. De repente veio
de lá a Filarmônica de Mucugê fazendo o som em direção à igreja
para a missa e o resgate do Santo que retornaria pro seu lugar de
origem depois da trezena. Acompanhei um tanto, mas estava ainda muito
devagar, era praticamente só a banda e uns poucos fiéis, ou foliões
como eu, acompanhando.
Eu procurava um lugar pra
bater o rango, mas só achei restaurantes à quilo com uns quilos
caros da porra: 40, 50 reais. Eu procurava um PF decente de 10
contos, mas parece que a cidade é preparada para turistas os barões.
(Deus me livre!) Como eu não ia desistir de comer logo achei um bom
samaritano que me deu a dica dos quiosques próximos a minha pousada
que eu não tinha observado. Encontrei uma barraca de uma anja
chamada dona Dorinha, simpática mãe de uma filha ainda mais linda
(“de menor”, viu?) que a ajudava no atendimento e serviam PF's de
carne ensopada e de filé de frango. Pedi o frango e enquanto ela
preparava fui ao outro lado da rua ao que parecia ser uma cachaçaria
e era.
Uma senhora já idosa de
nome Inês comandava o estabelecimento mais confortável que eu já
estive, cercada de cachaças, conhaques e outras bebidas menos
importantes. Perguntei se ela tinha erva-doce e ela tinha. Pedi uma
dose, dei o primeiro pau e - Que coisa esplêndida! - fiquei
apaixonado. Posso dizer que foi a melhor cachaça de erva-doce que eu
já bebi em minha vida. Ela me disse que era feita de uma cachaça
aqui da região e a erva também era das melhores: “É daquelas
erva-doce miudinha.” disse ela. Linda! Matei a dose e deixei outra
paga e fui pegar o rango.
Voltei pra barraca pra
pegar meu frango. Também estava espetacular. Na volta pra cachaçaria
dei de cara com um bate papo animado com uns moradores locais, uma
degustação de pitanga preta oferecida por uma moça de nome
Patrícia e - lá vem a filarmônica de volta! - Todos mataram suas
cachaças e saíram acompanhando o cortejo foi quando a Dona Inês
também encerrou seus trabalhos.
Acompanhei a procissão,
que agora era numerosa, até um ponto onde fizeram a última reza e
recolheram o santo. A banda ainda voltou tocando uns forrozinhos até
sua sede e encerrou os trabalhos rapidamente, então voltei pro meu
quarto e tentei escrever alguma coisa, mas a cachaça não deixou.
Nem lembrava o nome das tias salvadoras da noite, depois o computador
ainda travou, então eu dormi.
Já no dia seguinte, um
cachorro latiu não sei de que dimensão me dizendo pra acordar. Abri
os olhos, tudo escuro, um frio da porra, eu sem reloógio resolvi
esperar o sol me chamar, mas ele acabou demorando muito e eu me
levantei e fui cuidar de meus problemas. Antes de deixar a cidade
ganhei de brinde um suco de cajá maravilhoso da delicatessen
deguste, cujo dono acho que lembrava de mim de uma outra visita, mas
minha memória...
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