Por
uma vida menos ordinária é que eu vivo e com toda minha
simplicidade eu não consigo explicar que complicado é ser diferente
do que sou. Ambicioso, ciumento, rancoroso, desleal, desonesto?
Só se eu realmente estiver enredado, ou quem sabe até enrabichado,
pra isso crescer em mim, mas eu já estou velho demais pra bancar o
que eu não quero ser.
Eu
não sei porque minha mãe foi me dar educação. Às vezes a gente
tem que ser educado ao passar por situações constrangedoras. Eu
tenho muita sorte em encará-las, talvez por tentar ser sutil, sendo
desajeitado e impaciente como Jah me me fez. Eu não sei. Como
cheguei a essa idade? O que me deixa mais surpreso no decorrer
desses 40 anos é que agora eu percebo bem que as
pessoas lhe tratarão por mais idiota e retardado quanto mais
simples e humilde você for. Sempre tem um infeliz sendo humilhado e
tratado como lixo por todo canto e os verdadeiros doentes mentais
ficam jogando com seus bonecos: vestindo-os, alimentando-os,
alimentando o próprio ego e refinando as suas crueldades cada vez
mais. Eu tenho sido sorteado frequentemente. O pior é que
é tudo legal e os que observam apenas as propagandas do governo, vão
crendo em qualquer coisa que lhe digam. Maldita educação!
O
bom disso tudo é que de cada pequena coisa ruim você pode ir
criando uma nova coisa melhor e alguma hora isso vai fazer sentido. É
como se fosse o livro de Lewis Carrol, “Líuiss Carol, Louis Caró"
pros mais chegados. Agora eu não me lembro de nenhum outro
livro dele e nunca encontro ninguém melhor que a Alice pra dar
exemplo a certas situações a que qualquer sujeito está sujeito,
todos os dias, de ir seguindo um rastro de merda sem nenhuma lógica,
só porque não tem nada pra fazer.
Acho
que o que esse pessoal ainda não entendeu é que esse moço aqui
não deseja mesmo fazer parte de enredo de nenhuma menina
curiosa.
Ser
simples demais não pode ser pecado. Eu não tenho que buscar um
conforto que eu não preciso, uma erudição que eu não disponho,
uma paz que eu não vivo. O mundo nem só se desmorona em nome do
progresso, de uma vida cada vez mais desleal e escravista como nunca.
Não pode ser assim.
Nada
disso é novo: A Itália dita os conceitos da moda; a Alemanha, dos
carros; o Brasil, das gostosas; a televisão, a nova família
estupidificada em todas as suas gerações. Por enquanto a internet
parece ser segura para as pessoas simples.
Preciso
comprar café. Não existe nada melhor que café com pão e manteiga.
Quando eu entro na padaria passo o olho no freezer pra ver se tem
heineken. No dia que tiver vai ser uma alegria danada. Pelo menos
agora já tem num mercadinho perto de casa que fica aberto até às
23 horas. Preciso de um emprego pra tomar heineken, mas quero
trabalho honesto, nada de escrotidão - né não Renato Russo? De boa
intenção o inferno anda montado.
Sinceramente
eu não tenho nenhuma curiosidade em saber qual é a emoção de
explorar alguém que nada pode dar. Hoje se faz isso com a desculpa
de que está ajudando, tirando das ruas mais uma possível ameaça à
segurança e saúde pública. Muitas dessas pessoas jamais deixam a
toca do coelho. Seduzidas por rainhas fabulosas e suas histórias
supra-reais cheias de pompa e humilhação, vão ficando cada vez
mais perdidas. É insano, mas é assim que tudo transcorre desde a
Roma antiga. Ou será da antiga Grécia? O ano agora é 2014 e eu
estou me sentindo um greco-romano. Mas que educação é essa que não
me permite mandar se foder? Se for pensar na deselegância do que
fazem todos os dias com milhões via televisão e ninguém pede
desculpa...
Ontem
um de meus melhores amigos me disse que outro dia um desconhecido lhe
deu parabéns por ter sido ser honesto em devolver-lhe o que tinha
acabado de cair do seu bolso. Dá pra imaginar uma coisa mais
constrangedora? Vivemos um conto de fadas, só que não. Não é Luis
Carol, nem tem nenhum coelho ou uma garotinha inocente perdida em
fantasia. É apenas um buraco onde todos querem a sorte de se
enterrar: um emprego, uma namorada, um carro, uma
casa, um iate, uma ilha; várias namoradas, vários salários; vários
carros; várias casas... Viver enterrado na busca frenética pelo que
não precisa e pelo que não se pode aproveitar plenamente.
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