segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Vida de terror

"Precisa-se de uma enfermeira que... seja amigável, carinhosa, trabalhe de graça e, se possível, durma no emprego."

Eu já tive dias ruins, semanas ruins e até mês bizarro, mas um ano inteiro de bagaceira é demais. Esses últimos dias tem sido daquelas incríveis desventuras que só acontecem comigo. Na quinta eu quase fui assaltado em meu bairro por um maluquinho de menos de 17, antes nessa mesma noite eu já tive de caminhar do centro da cidade até em casa com o contra-baixo pendurado nas costas. Na manhã seguinte eu queimei o punho ao morder um sonho que fôra esquentado num micro-ondas não sei pra quê. A gentil cavala ainda me avisou que o recheio estaria quente e eu estava cuidando de dar pequenas mordidas para não queimar também a boca, mas foi inútil: queimei lábio, céu da boca, língua, punho, perna e já voltei pra casa de bicicleta com medo de me arrebentar na suburbana, porque um dia que começa assim não costuma acabar bem.
Pouco antes das 5 da tarde peguei meu violão e fui para a praia buscar alguma resposta no pôr do sol e até que foi tudo bem, exceto por um carvão em brasa que apareceu em meu caminho e queimou meu pé. Apareceram alguns amigos e confraternizamos alguns minutos de esplêndida harmonia, apareceram até umas garotas tornando o espetáculo solar ainda mais bonito. Daí em diante as coisas que sucederam foram dignas de terror classe-A, daqueles em que os espíritos cercam a alma do condenado até que não lhe reste mais nada a não ser se render e aceitar seu destino miserável.
Começou com uma notícia atravessada de que um amigo havia levado um tiro, mas essa informação logo foi desmentida; depois enchemos um congelador de cerveja e jogamos umas partidas de baralho, legal, ambiente decente, controlado, saí dali e fui encontrar um sacana que precisava de uns conselhos, mas eu sempre soube que esse negócio de conselho não é coisa de Deus.
1º de novembro se comemora o dia de todos os santos e no dia seguinte é dia dos mortos. Antigamente eu era muito cuidadoso nessas datas e quase nunca nem saía de casa sem estar seguro de que teria como voltar em segurança. Quando fui ver meu brother esqueci minha chave na porta do quarto, noite de sexta eu não ia acordar minha mão e o número que eu tinha de meu irmão se perdeu na troca da placa do celular, ou seja, ou era ficar bêbado até de manhã ou dormir na rua.
Nunca ofereça um bom conselho sem uma bebida adequada e nossa amizade de 30 anos merecia um alcatrão com limão e mel. Dali pro Mavic (Bar de videokê) e estar completamente embriagado foi um nada, sem contar que eu ainda tava sem a chave de casa e ciente de que meu dead line já tinha pra lá de ido do dia dos mortos que já amanhecia chuvoso e sombrio.
Ainda na praça da Revolução levei meu primeiro tombo na primeira tentativa de ir pra casa de bike. Crendo eu que meu irmão já tinha acordado pro baba de sábado, mas acho que ele se aputara com a chuva às 5 da manhã. Meu outro irmão ainda estava no trabalho e eu não ia acordar minha mãe uma hora fria daquela então voltei pro bar e bebi mais umas no tempo que levou para amanhecer e eu tentar novamente entrar em casa, mas tudo o que eu consegui foi ser derrubado por uma planta e me bater no muro antes de cair estatelado no passeio a duas pedaladas do portão de meu portão.
Restejando, parei no portão de minha casa e toquei a campainha de casa algumas vezes, meu irmão não apareceu. Subi na bicicleta e fui dormir torto no sofá da casa de meu brother dos conselhos até uma hora mais própria em que eu pudesse finalmente encontrar alguém em casa. Quando finalmente entrei em meu quarto eu mal conseguia me despir, tudo era apenas dor e solidão. Estava agora exatamente como meu cão.
Tinha um ensaio marcado para a tarde deste sábado, mas temia não ter condições de tocar baixo, violão, ou mesmo de pegar um busu ou sair a pé.
Tomei um banho como pude e fui me deitar para ver se a dor passava, mas quando acordei tudo era ainda pior.
Não conseguia nem mesmo me vestir e fui sem cueca até a UPA a fim de ter alguma atenção médica. Fiz uns RX a pedido do ortopedista que em seguida me mandou tomar na bunda 3 vezes(ui) uma furada de uma enfermeira de nome Riana, que desgraciosamente se tornara a única boa lembrança desse fim de semana macabro. Ela e seus cabelos dourados, ondulados, jovem e de uma boa presença de espírito. Seu sorriso e olhares também eram de grande presença e tenho certeza que por debaixo do jaleco de enfermeira batia um coração transbordante de amor, mas chegou minha carona pra casa e nos despedimos entre os pacientes e profissionais que aguardavam o dia dos mortos acabar.
Domingo pela manhã minha mãe bateu na janela do meu quarto e perguntou se não seria melhor sacrificar Conhaque, pois ele parece não querer mais viver. Eu fico pensando como era tão melhor quando meu irmão me acordava aos gritos dizendo que era hora de ir pra escola.


  
 

    

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