Certa vez na primeira série, a "Tia"(professora) pediu para os alunos pegarem um lápis e lhes deu uma folha de papel ofício para que estas escrevessem algo que ela iria ditar. Houve muita algazarra naquela sala cheia de crianças ávidas por aprender algo mágico do mundo das letras, da leitura, da ciência, ou de qualquer coisa que se tratasse, na verdade, para essas crianças logicamente tudo não passava de brincadeira séria.
Depois que todos se acalmaram e pegaram seus papéis e lápis, a "Tia" lhes disse: "Escrevam a letra A".
John, o mais empolgado da turma tascou-lhe o lápis no papel e fez um "A" perfeito, gigante, lindo, digno de nota dez. Mas a "Tia" achou que aquele menino estava "trollando" e tascou-lhe para a sala ao lado. Houve perplexidade da parte de John, que não fazia idéia que cometera seu primeiro crime, como também não fazia idéia que a sala ao lado era a da pré-escola.
Resignado, ele se encaminhou para a sua nova sala um tanto triste, pois naqueles poucos minutos, no primeiro dia de aula ele já travara amizade com alguns dos coleguinhas. Na nova sala, ele percebeu que as crianças eram menores, mas em sua cabeça infantil era apenas uma sala de aula como qualquer outra, com uma "Tia" dizendo o que os "sobrinhos" deveriam fazer e o que não podiam fazer. Mas a essa altura o pequeno John já não sabia se podia mesmo fazer o que lhe pediam, pois, já nesse tempo, ele percebeu que as pessoas não eram muito pacientes.
No intervalo para a merenda houve um certo rebuliço na sala de professores. O assunto era o pequeno John.
- Aquele garoto não tem condições de acompanhar os alunos da primeira série. Disse a 1ª professora.
- Eu não sei. Acho que ele é muito inteligente pra ficar com os meninos do pré.
- Mas eu lhe pedi pra escrever uma letra e ele usou toda uma folha de papel. Você sabe como é escaço o papel aqui na escola. Não podemos gastar uma folha por letra.
Nesse momento a diretora da escola, uma mulher de caráter e bom-senso incomuns para a época, apareceu e tomou parte da situação.
- Alguém perguntou ao garoto o porque dele ter feito isso?
- Mas ele só tem 6 anos e mal sabe falar. Retrucou a tia da primeira série.
- Eu mesma vou conversar com ele. Finalizou a diretora.
Na volta do recreio, o pequeno John não se encontrava em nenhum lugar. Ele havia pedido para o seu irmão, que também estudava na escola, para o levar para casa.
No dia seguinte, John se recusava a voltar a escola. Sua mãe foi até lá pra saber o que estava acontecendo com seu filho, que sempre teve sede de aprender e mesmo antes da alfabetização já conseguia ler algumas palavras e até mesmo fazer contas, o que era impossível para ela própria acreditar, pois nenhum dos seus irmãos mais velhos aprendera tão cedo a identificar as letras, formar palavras e fazer contas.
A diretora, coitada, não fazia idéia do que lhe dizer...
- O primeiro dia de aula é assim, mãe, as crianças às vezes inventam histórias, sabe como elas fantasiam...
E lá foi John de volta à primeira série, para o desgosto da "Tia" que o rebaixara.
Ao entrar na sala, a gurizada era só riso, algazarra e "aluguel". O pequeno John estava sério, calmo e até mesmo sorridente. Um dos seus coleguinhas perguntou o que acontecera e John respondeu com a simplicidade de uma criança:
- Acho que a tia não gosta de mim. Ela me deu um papelzão danado pra escrever só uma letra... aí eu escrevi.
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