segunda-feira, 4 de abril de 2011

Os cara de facão

Depois da bricadeira infeliz de primeiro de abril, acho que acabei sendo castigado. Sexta à noite o clima já não estava legal, aliás faz é tempo que o show dos Honkers não é mais o mesmo (aí é outra história). O que eu sei é que apesar de todos os amigos e amigas encontrados eu não me sentia 100% pra cair com os dois pés na jaca. Juro que tentei beber até de manhã pra pegar meu busu único pra casa, mas não deu. Dormi na mesa. 
Peguei um busu pra São Joaquim já quase às 5 e de lá outro pra Pericity. Meu plano era chegar em casa pra relaxar o espírito.
Veio o primeiro Simões Filho (via suburbana) que sai do comércio 5:30h. Estava morgado. Me sentei  num dos assentos entre a frente e o meio do busu, contrariando meu costume de sentar no fundo pra esticar as pernas. Eu queria mesmo era me deitar, pois o sono estava cruel, mas ali não dava e eu acreditava que ninguém me acordaria. O cobrador, como de costume, quando o ônibus está vazio, estava sentado lá na frente conversando com o motorista. Separei a grana da passagem e praticamente desmaiei no assento esquecendo de rezar pra ser acordado pelo cobrador antes que chegasse em Simões. 
Cerca de 10 minutos depois eu estava sendo acordado com alguém gritando "É um assalto!" abro meus olhos, me sento direito e jogo a mochila no chão. Vejo um dos marginais se dirigindo para a frente do busu onde outro marginal segurava uma peixeira reluzente: "celular e relógio rápido que ninguém se machuca!", no fundo do veículo, um terceiro elemento de posse de um facão saqueava o cobrador e os pasageiros do fundo. Ainda pude ouvi-lo reclamar com um dos passageiros: "só isso aqui?!". Outro passageiro que não queria dar a mochila, dizia que só tinha o rango e a farda ali dentro, mesmo assim perdeu. Joguei a minha ainda mais pra debaixo do banco, meti a mão no bolso pra pegar o celular e retirar os chips, rezando pra que ninguém estivesse com uma arma de fogo, pois aquilo seria uma carnificina e eu não tinha nenhuma intenção de presenciar isso. O "gritador" do bando retornou e o que eu pude fazer foi abrir as duas mãos e deixa-lo escolher entre os 2,50 da passagem que ainda estavam em minha mão e o meu celular irritante. Ele preferiu o celular. Não viu mochila no chão (havia a câmera e o pedal do baixo dentro da mochila, além de livros e roupas). 
Passado o pânico, os bandidos desceram próximo ao Boiadeiro (em Lobato) e sumiram nas quebradas. O busu parou em Plataforma, onde alguns passageiros desceram, e fez a volta para ir à delegacia informar o assalto. Eu permaneci no busu, pois a uma altura daquela não conseguia nem raciocinar.
Ao chegarmos na delegacia da Baixa do Fiscal, também conhecida como "GRUPO ESPECIAL DE REPRESSÃO A ROUBOS DE COLETIVOS - GERRC" encontramos os policiais ainda dormindo e não havia energia elétrica. Nos contaram que estão no encalço desses bandidos e havia uma equipe na rua escoltando os ônibus a fim de prendê-los. Disseram que esses bandidos estavam agindo há algumas semanas pegando sempre o primeiro ônibus de cada linha. O Simões Filho foi o sorteado da vez.
O cobrador foi prestar sua queixa à luz de velas enquanto os passageiros conversavam entre si contando cada um sua versão do caso: "Os caras levaram a mochila com eu rango, véi!" dizia um, "Levaram minha corrente de prata." dizia outro; "Levaram meu relógio e meu celular que eu ainda tô pagando." e por aí ia.
Eu não sei se estava puto ou qual era meu sentimento, mas ser assaltado por uns caras de facão era uma coisa muito louca, louca demais até pra mim. "Cara de facão" era uma música que fiz lá na CDP para um brother em que o refrão diz: "não vou não, cara de facão! Não vou não cara de facão!..." Agora "a cara" virou "os cara". Horrendo! Me senti no filme Serra Leoa.
Um senhor contou uma história de que esses ladrões na verdade eram vendedores de peixe que usam os celulares e relógios como moeda de troca com os pescadores locais e saem vendendo pescado por aí com um carrinho-de-mão. Isso me pareceu bastante surreal, mas pelo sim pelo não vou dar um passeio por lá numa manhã dessas pra ver se descubro alguma coisa.

Um comentário:

  1. Bom dia, amigo véio. Salvador tem se tornado, a cada dia mais, um local insuportável para se viver. Aquelas coisas que riríamos no seu relato já não tem mais graça. Ao mesmo tempo que tenho saudades das geladas no Biriteria ou no Panzuá, dos bate-papos na frente da casa de D. Ana ou até mesmo de voltar à pé de um sorvete de pistache na Ribeira e passar na casa de Marto só pra perturbar, lembro que fazer qualquer uma dessas coisas é se arriscar a não chegar em casa. Infelizmente a malandragem não é mais perpetuada pelos caras que valorizavam a vida e só estavam por alí pra tirar uma com você. Eles querem mixaria e consideram a vida de outrem mais mixaria ainda. Mesmo assim fica a saudade e a vontade de que nossa cidade volte a ser aquela bagunça gostosa que éramos acostumados. Um grande abraço!
    alguns segundos atrás.

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