quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Claro que eu não aprendo

Quando eu tomei minha primeira queda de bicicleta eu fiquei cabreiraço de sair de novo. Acho que o problema foi que eu aprendi a pedalar já meio velho. Minha mãe até tinha comprado uma bike pra mim quando eu era pequenino, mas eu não tava muito disposto a aprender. Acho que meu instinto primitivo me dizia que não andar de bicicleta ia evitar um monte de dor, mas eu só escutei essas vozes dentro de mim até os 12 anos. Quando eu finalmente comecei a pedalar meu instinto primitivo já não era tão forte quanto o meu espírito aventureiro e esse sim era miseravão.
Minha primeira queda feia foi na rua da Fortuna, tirando onda de acrobata em pé em cima do quadro da bike, uma bmx, só pra me exibir pra uma gatinha que morava perto desse endereço. Tudo ia bem até eu tentar descer do quadro apertando o freio dianteiro, dali pro asfalto foi uma fração de segundo. Fiquei deitado no chão por alguns minutos até que as pessoas parassem de rir e me levantei fingindo tontura indo pra casa "todo fusquinha" logo em seguida.
A segunda foi um momento histórico. Eu fazia cross, mas não sabia andar de uma roda. Tentava de todo o jeito manter a bike empinada, mas era sempre em vão. Eu tinha medo. Um belo dia, na praça da Revolução, lado a lado com meus colegas de pedal eu decidi que daria "300 pedaladas" com uma roda só. Até que eu tava indo bem, já tinha dado umas 3 quando a bicicleta emborcou e eu fiquei com o pé preso no pedal (que na verdade só tinha o eixo) caindo de bunda segurando a bicicleta no ar.
Uma vez eu tava descendo a ladeira da Cocisa, em São Tomé de Paripe. Minha bike nessa época tinha freio no "contra-pedal", que é quando a gente só precisa pedalar para trás para ela frear, e eu achava isso fantástico, mas descendo uma ladeira dessas a gente não tem muitas opções para evitar acidentes com esse tipo de freio. No início da descida eu resolvi pedalar rápido pra que ela pegasse embalo mais rapidamente, mas meu pé saiu do pedal e a pedivela deu uma volta acertando o pedal de ferro em minha panturrilha, fazendo um estrago que eu batizei depois como "o Castelo de Blandar". A pedivela não parava e eu tive que descer a ladeira toda com os pés suspensos rezando para não me desequilibrar e cair no corrégo de concreto que beirava o asfalto. Eu só pensava que ia morrer, mas consegui chegar na praia e tomar um banho de mar cicatrizante e encorajador, pois sabia que ia tomar um "sacode" de minha mãe quando ela me visse com a batata toda lascada.
Uma outra vez na mesma rua da Fortuna, mais uma vez me exibindo, provavelmente pra outra garota, eu fui pular o quebra-molas e na aterrissagem a roda traseira derrapou e eu saí ralando o joelho no asfalto por uns 3 metros ganhando assim minha outra cicatriz lendária batizada de "olho de Thundera".
Eu tomei mais quedas do que eu consigo lembrar. Não só de bike, mas correndo, andando, subindo em coisas... eu nunca fui um cara muito de me intimidar com porra nenhuma, porque eu nem quando guri era covarde bastante pra não sair de casa por medo, pelo contrário, eu tinha era pânico de ficar em casa só (A cuca me assustou até uns 16 anos sem nenhuma brincadeira). Já com meus 18/19 anos a galera inventou de ir até Piatã pedalando, e como eu tava sem bike, pediram uma emprestada e jogaram em minha mão. Passamos num posto no caminho e pegamos uma garrafa de vodka e algumas de suco natural de laranja. Eu era o "biker bar" e fui fazendo a dosagem da mistura e dividindo nos squeezes de modo que sobrasse mais pra mim, é claro, que era um excelente comedor de água. Lá pelas tantas, já na orla, eu e meu brother Pep resolvemos esticar a pedalada até Stela Mares, já que a outra parte da galera (as meninas, que iam de carro) ainda não havia chegado no local combinado e o resto dos marmanjos estavam esgotados demais pra seguir pedalando.
Pep ia numa Caloi 10, bike de velocidade, e eu ia bêbado numa mountain bike emprestada. A gente chegou em Stela, tomou duas numa barraca e voltou. Como a bicicleta de Pep era mais veloz, na volta ele disparou na frente e sumiu de minha vista. Quando eu cheguei em Itapuã e não consegui mais vê-lo, resolvi disparar no seu encalço. O sinal fechou, me dando a chance de atravessar e sair em disparada, mas poucos metros à frente uma viatura da polícia resolveu parar num lugar onde eu tinha duas escolhas: desviar e seguir, ou reduzir e salvar meu coro. Claro que um bêbado não tem o menor apego ao seu courinho, então eu subi no passeio em alta velocidade, passei pelos "homi" e na descida tudo o que deu tempo de pensar foi "me fudi!". Eu vi cada pedrinha de asfalto se transformar em pedregulhos enormes passando rente aos meus olhos. O pânico de ser atropelado não me deixou desmaiar e eu levantei tão rápido quanto caí, saindo depressa do meio da rua quando um dos policiais me fez as perguntas mais estúpidas que alguém poderia me fazer nessa situação: "O que foi isso aí, rapaz? Você caiu, foi?"
Só pra ilustrar um pouco o que foi essa queda todos os membros de meu corpo tiveram algum ferimento. Eu caí de cara no asfalto, mas o boné slavou boa parte do meu rosto que ganhou uma barba de carne viva do lado esquerdo e minha testa crescera uns 20cm, minha camisa tinha lascado nas costas, mas era meu ombro que faltava um pedaço, meu joelho, que era mais escuro que minha perna por causa do meu passado ganhara mais uma vez a cor vermelha e eu nem tinha certeza se podia estar mesmo de pé, mas não queria ficar parado ali esperando nada. Entrei no posto policial, lavei meu rosto e meus ferimentos, ajeitei o que pude a bike pra poder continuar e fui encontrar meus amigos, que apesar de assustados como eu, ficaram aproveitando a praia e a minha aparência de zumbi até o fim da tarde.
Quase 20 anos depois cá estou eu novamente de bike (Mariana). Essa semana ela está andando formidavelmente bem e como eu já estou mais em forma não tenho perdido meu tempo em ponto de ônibus pra ir a canto algum, pego Mariana e caio no mundo.
Ontem, voltando de uma noite esplêndida na sede do "Red Devils" na companhia de meus amigos de banda e mais uma galera do rock, completamente embriagado e cansado, resolvi que seria uma boa fazer uma filmagem e mostrar às pessoas como é tranquilo andar de bicicleta de madrugada. Não havia viv'alma na rua e eu podia andar sem as mãos por quilômetros antes que algum veículo aparecesse e lá ia eu bêbado e feliz quando uma imperfeição da pista, que não é uma coisa que a gente veja a uma distância segura à noite, não me deu tempo para colocar novamente as mãos no guidão e esperar o impacto. Enquanto eu narrava o que estava acontecendo acabei narrando minha queda. Infelizmente o vídeo não foi salvo, pois a câmera voou e não salvou. Meu ombro ganhou mais uma cicatriz e o guidão de Mariana ficou com fortes seqüelas. Meu celular não tinha carga, eu não tinha mais nenhum centavo nos bolsos, minha câmera estava quebrada, mas eu continuava bêbado e cansado. Pelo menos a bike ainda dava pra andar e eu vim devagarzinho pra casa com medo de que algo em Mariana soltasse e eu me esborrachasse novamente, embora não seja muito comum um cara cair duas vezes no mesmo passeio de bicicleta. Cheguei em casa mais aliviado do que puto, terei que saber agora de quanto será meu prejuízo, pois amanhã mesmo eu caindo na pista novamente.
Espero que eu um dia páre de ser tão vacilão, mas não quero nunca ser covarde.

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