segunda-feira, 29 de março de 2010

Estava escrito no Salmo 23

A gente tem todo esse tempo. Ela entra na cozinha, diz que não gosta de me ver assim. Respondo que vou colocar uma camisa. Ela sai.
Uma hora antes disso eu estava indo pra casa, a pé, desacostumado; só vou ver Mariana amanhã de manhã.
Vira e mexe eu me encontro meio desconfiado. Penso que as pessoas em minha volta estão "ligadas" em mim e tento não demonstrar nenhum sinal de esquisitice. Isso nem sempre dá certo, e por estar sem bike, desacostumar-me de andar de pochete e short é complicado. Ainda mais que aqui na suburbana, quando a audiência de certos programas populares, chama a atenção demais, pode ser também muito perigoso.
Na volta pra casa eu resolvi passar na padaria, afinal, nem só de cachaça vive o homem, mas também de pão e outras bebidas. Como estava de pochete, minha carteira, logicamente, dentro, tive que abri-la para pagar o pão. Alguns clientes me olharam desconfiados e eu não sabia se era por causa da pochete, ou se era minha paranóia, pra piorar não era a mesma padaria de todos os dias, não havia cartazes com o preço do pão e eu me enrolei até pra fazer meu pedindo, aumentando um pouco a tensão no local. Mas nada disso era importante eu queria sair dali e chegar em casa. Parei ainda pra conversar com uma gracinha a cem metros de casa, caminhei mais um pouco, lembrei do celular, na verdade de música, me toquei que ali não era um bom lugar para ficar com o celular na mão, trirei o fone de ouvido, virei a pochete para frente, abri, coloquei o celular. Um carro de polícia que acabara de virar a rua me abordou, pediu que eu colocasse as mãos sobre a viatura e abrir as pernas, me revistaram, pediram calmamente para que eu abrisse a pochete, bem devagar e bem devagar eu a abri: celular, chaves, câmera, kit de reparo, isqueiro, lanterna... dessa vez não pediram pra jogar tudo no chão. Não os encarei, não me alugaram. Disseram que eu podia seguir, entraram na viatura e saíram em disparada. Penso que ainda não sou tão velho assim. Entrei em casa e fui fazer meu café.
Lavava a louça quando ela entrou. Acho que ela falava de minha cara feia coberta com uma barba longamente falhada e meu cabelo imenso desgrenhado.
Uma hora antes disso eu estava indo pra casa e resolvi passar na padaria atrás de um alívio pra larica. O pessoal lá me olha meio desconfiado. Pego meu pão e me saio. Ligo meu fone de ouvido e, viajando, vejo passar o carro da polícia. Entro em casa e vou fazer um café e aproveito pra lavar a louça de 4 dias.
O tempo nos ensina a não temer mal nenhum ainda que andemos pelo vale da sombra da morte.

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