Cara, eu acho que o demônio resolveu tirar férias
e colocou um estagiário bem escroto no lugar. Pegou o mais
desgraçado, claro, afinal o diabo não gosta dos bons, nem mesmo os
“bons maus”. Eu que não sou bom coisa nenhuma só me fodo de
todo lado; Quando Deus tira férias também coloca sempre um cara que
só olha pro lado errado. Deus me livre! Desgraciosidade. Mas eu não
vou começar o ano reclamando de Deus e do mundo porque é ano novo e
a esperança de que tudo mude sempre se renova, assim como meu sonho
em ganhar um prêmio por tudo que ainda hei de fazer, mas não sei
quando, ou sonho de namorar Camila Pitanga, também minha vontade de
um dia não reclamar e falar mais palavrão sempre consegue um bom
motivo para se cumprir, mas este nunca seria eu, creio. Pelo menos eu
tenho mais 365 dias (menos 19) pra realizar vários outros desses
sonhos.
Vejamos, se o diabo não estivesse de férias, eu
certamente estaria morto. Desde novembro por 4 vezes eu tive a clara
visão da morte de cima de minha bike, até que no dia 9 me aconteceu
de morrer literalmente. Só consigo estar aqui escrevendo, dez dias
depois, porque sou um cara duro e incrédulo e ainda que ela venha
até mim e me tire pra uma dança, sei que terei tempo bastante para
realizar o pouco e inútil que me resta e dançar alegremente pois em
qualquer que seja este momento ele será perfeito. Hoje eu percebo
que mesmo que repentinamente me seja tirada uma vida, minha energia
continuará existindo e não importa o que seja dito sobre mim depois
que me for, jamais desejarei tanto ter mais tempo pra dançar com meu
amor.
Se eu não posso andar de bicicleta porque os
joelhos me doem, se meus joelhos não doessem mais eu ainda teria que
montar outra bicicleta, se eu não posso montar ando em círculos,
como a frase que acabara de acabar o texto. Mas, seja como for, é
bom estar de volta aos bares.
Puxa vida como eu adoro beber! Acho que no fim das
contas o acidente também serviu pra provar mais uma vez que os
bêbados tem um anjo da guarda até quando não estão bebendo, se o
acidente fosse ano passado provavelmente seria fatal, mas no dia 9 de
janeiro eu ia comer uma água indecente depois do trabalho, (sim,
tenho um novo trabalho) mas o diabo, vendo minha má-intenção
resolveu me sacanear muito fazendo-me bater de cara com a pior
desgraça da sociedade moderna, o trânsito dos automóveis, além
disso me deixar consciente todo o tempo pra ver o quanto o ser humano
pode ser filadaputa com o que está em desgraça, me deixou penando
num corredor de morte de um hospital assombrado das 18h até as 22h
sem nem um cafezinho sem pão, e isso é até o de menos, pois só
não fui pior atendido do que no IML, mas eu disse que não ia
reclamar.
“Malassombrada” é a imagem de Rodrigo
(Sputter Chagas) como uma espécie esquisita de herói que me faz
crer que eu tive alucinações após o choque. Apesar de não ter
tomado cerveja, ou usado qualquer droga até a hora do acidente me
reporto ao inferno da vida sem bebida. Se eu tivesse bebido teria
entendido tudo diferente, talvez desmaiasse e ficasse lá, estirado
no chão, uma concussão, um traumatismo qualquer, talvez mesmo o
óbito, mas pelo menos a culpa seria toda da droga mesmo que não
fosse, seria minha culpa. Me sinto mal por ter sido uma senhora,
queria estar bêbado, queria ter morrido, mas não gostaria de ter me
batido no carro dela, não por conhecê-la, nem por ter ido com sua
cara, mas por ter certeza de que ela foi filha da puta, ainda que
tivesse ficado nervosa, assim como eu, que nunca fui atropelado
antes, nunca vi uma bicicleta me proteger tanto, nunca fui pego de
surpresa no trânsito, ainda mais por uma idosa, isso é tudo muito
surreal; Só aumenta a minha fé de que tem alguém me sacaneando no
inferno.
Mas veja bem, “o que não me mata me fortalece”
e “o que não mata 'também' engorda”, sendo assim, comecei a me
policiar, me resguardar, ainda mais, controlar o palavreado,
controlar o ímpeto, trabalhar com mais felicidade, pois não tenho
muito que fazer mesmo sem bicicleta e já que eu não posso “perder
meu tempo” pedalando... trabalho em casa, ou onde quer que possa me
conectar. Se eu me vencer a mim mesmo quem sabe não começo a
trabalhar no celular pra me poupar o trabalho de trabalhar parado?
O bom é que eu consigo tocar violão, a mão já
está quase solta no baixo e “vamos que vamos que o groove não
pode parar!”. Não posso pedalar (nem dançar muito), mas é tudo
por uma razão que eu desconheço ainda, mas não vou desprezar. É
bom estar trabalhando de novo, é bom poder tocar um instrumento, é
bom ter amigos eternos e é bom estar de volta aos bares. De qualquer
maneira, sem o hábito de se “comer água” muito se perderia do
desenvolvimento. É bom estar de volta ao bar, é bom estar de volta
aos bares, é bom saber que se tem um lugar confiável para se chapar
e depois se chapar novamente e nunca estar só, e nunca estar de mau
humor, e nunca estar sem dinheiro, pois o dinheiro move o bar, mesmo
que seja o seu, e não a sua desgraciosa presença: É bom ter
dinheiro pra gastar no bar, mas é muito melhor ter apetite etílico,
saber apreciar uma cerveja “na faixa”, uma boa caipirinha cheia
de açúcar, um falso conhaque com gosto de água de coco... o verão,
o sol, o calor, o líquido, os vapores... Ah! Ar...aires...
é bom estar de volta aos bares!
é bom estar de volta aos bares!
Bem-vindo de volta, vivo. Feliz Ano Bom!
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