O que as pessoas chamam
de "viver a vida": estudar, trabalhar, ter filhos e se aposentar, rigorosamente
nessa ordem, não faz parte dos meus planos para uma vida completa. Eu não consigo viver sem estudar, beleza? O trabalho
normalmente rouba as melhores horas para se aprender algo,
além de cansar o cidadão, mas também ensina. Muita gente acredita que apenas o trabalho mantém o homem com a cabeça no lugar: "mente vazia é oficina do diabo" dizem. Queria esvaziar minha mente um dia, mas não dá, tenho que estar esperto a qualquer oportunidade de aplicar o conhecimento adquirido.
Talvez minha péssima memória me obrigue a ficar aprendendo o tempo
todo, me informando e me atualizando disso e daquilo, mas é uma obrigação natural, não? Um dia eu me lembrarei
de tudo e então morrerei, e não terá muita importância. A menos que
eu viva muito, o que eu não creio.
Não gosto muito de
pessoas, digo, não gosto de estar em meio a muitas pessoas, mas
gosto de muitas pessoas, que nunca estão juntas, mas gostam de estar
com muitos, isso é "efeito borboleta", ou "teoria do caos", como queiram chamar. Muita gente junta, muita energia diferente, muito cuidado a se tomar... isso tem me feito ficar cada dia mais longe das ruas. Eu não consigo mais tolerar certas coisas, certos
comentários e certa maldade Tudo bem falar mal de mim, eu posso não
ser como dizem, mas acreditar num absurdo por achar “natural” que tal "besteira" seja verdade sabe como é que eu chamo? Atavismo. O que eu penso de alguém interessa a bem pouca gente e eu não quero mesmo saber o que ninguém pensa sobre alguém que não me diz respeito. Ninguém pode ser forçado a querer saber de algo alheio o tempo todo, mesmo porque vivemos num mundo onde muitos precisam de muito pouco e não o tem. Não posso querer o que os outros querem, quero que ao menos os meus, aqueles que me rodeiam mais intimamente, sejam capazes de saber o que sou eu e o que não é, mas isso é uma polêmica bem inútil.
As pessoas tem a mania
de fazer julgamentos a respeito das outras e guardam essas impressões
por toda a vida. A maioria das vezes estão erradas, mas vivem melhor
pensando que estão certas, e seguem suas vidas sem pensar mais
profundamente nisso. Não gosto de pessoas que pensam seja o que for
de mim, pois não tem nada que possam me oferecer de bom. Gosto de
quem compartilha um pensamento comigo, pensa junto, que tem ideias e não impressões, quem
conversa francamente e fala o que sente mesmo que não agrade, dessas
eu gosto, mas é difícil encontrá-las no presente, eles se perderam
num passado que pode nunca ter existido.
O que importa é o que
a maioria acredita. Pra minha sorte, só apareço no jornal com a
banda ou com a bike, mas se um dia aparecer sendo preso em alguma maracutaia os falsos,
hipócritas e os invejosos farão coro com a massa ignorante ao meu respeito. Meus verdadeiros amigos apurarão a verdade, mesmo que não seja para lhes confortar, pois sei que em seus corações repousará a verdade, mas para que a justiça prevaleça, pois foi para isso que sempre vivi.
É muito triste
imaginar que por causa de um comentário maldoso, falso, alguém
tenha sua liberdade tolhida, seja excluído: da companhia de pessoas
que estima, de informações importantes e até mesmo de
oportunidades de trabalho, garotas, romances, etc. A credibilidade de alguém
depende da opinião de outros que não tem nenhuma credibilidade, ou
que, pela falta de caráter, ou de informação, não pode ser
levada em consideração.
Não sei qual a
intenção de alguém que perde seu tempo falando sempre sobre a vida
dos outros. Eu tenho minha própria vida e adoro falar sobre ela,
mesmo não tendo uma memória muito boa sobre tudo o que me
aconteceu e às vezes falando mais do que é necessário à rede mundial de computadores, imagina sobre o que aconteceu com um filadaputa na
casadocaralho...
Às vezes... às vezes me dou conta de que meus amigos me atrapalham mais do que me ajudam. Essa é uma triste e horripilante verdade. Quando
eles não me escondem alguma coisa por acharem que eu não
concordaria, julgam-me capaz de torpezas absurdas. É punk. Por algo
que eles próprios fizeram também não sou bem visto, mas que se fodam! Todos! Não será por isso que terei cada
dia menos amigos. Gosto cada vez menos de sair de casa e é cada
vez mais difícil permanecer ileso na rua por muito tempo.
Desde pequeno nunca gostei de “casa dos outros”, mas agora, além
continuar não gostando, não me sinto confortável o bastante em
muitos lugares. Além do mais, às vezes, com cachaça até as
tampas, eu mesmo faço por merecer alguma hostilidade, mas isso é uma outra conversa. Aqueles pequenos momentos de entorpecimento, são o pouco
que sobra da humanidade que nos foi roubada. É uma pena não ter
como explicar isso em palavras. Não em poucas linhas, como deveria.
Uma vez eu experimentei
a Ayahuasca
e por alguns minutos eu pude ver com muita clareza a “energia” em
volta dos objetos; de olhos fechados pude reviver segundos do meu
passado. Isso pode ser contado, mas não pode ser transmitido. Quem
já teve essa sensação, com qualquer coisa, em qualquer momento,
sabe do que estou falando. Por ter uma péssima memória, poder reviver
o passado é sempre muito útil, didático, esclarecedor, atestador
de caráter etc. Não me levo em grande conta, mas amo a mim mesmo,
com um certo "desdém zaratústrico".
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