quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O pedal da Ilha (26/07/09)

Acordei 5:45, liguei a tv, fui tomar banho, dei uma olhada em Conhaque, que estava mancando provavelmente por causa de uma das mordidas da véspera. Dessa vez eu arrumei minha “pochete-mochila” mais decentemente: protetor solar, toalha; também lembrei de pegar duas garrafas de água empedrada que estava no congelador e saí. Tinha colocado o celular para secar sobre o motor da geladeira e quando fui pegá-lo vi que havia dado certo a técnica, e o aparelho funcionou sem nenhum problema. Pareceu até melhor do que antes de mergulhar no rio do Cobre. Já quase 6:30h, passei no QG e não vi viv’alma, passei pela porta de Antonio Cláudio e nada. Liguei em seu celular, mas só dava caixa. Dei uma volta pela praça deserta pensando no que fazer e resolvi ir sozinho para a Ilha.

A suburbana estava tranqüila. Tem alguns pontos sagrados de parada para reabastecimento, mas infelizmente os bares estavam fechados. Vim todo o caminho a bico seco, porque um homem bruto como eu não ia ficar bebendo água de estômago vazio. Fui parar apenas na feira de São Joaquim, onde comprei umas frutas para meu desjejum.

Fui para o ferry-boat na esperança de ainda encontrar o pessoal da pedalada, mas não vi ninguém. Eu tinha esquecido de olhar minha carteira e só lá que eu descobri que tinha apenas 17 reais e a passagem para a bicicleta custava R$ 13,45. Por sorte aceitava cartão e eu adiantei meu lado. Peguei o ferry de 7:40.

Lavei as frutas no banheiro do ferry e fiquei me refestelando enquanto curtia a vista. O porto de Salvador estava congestionado, havia navio pra caramba aguardando para atracar, grandes, enormes, gigantescos. Ao longe a gente vê a ponta de Humaitá e a medida que o barco se afasta a gente pode ver a quase toda a cidade, até mesmo a igreja de Periperi. Gastei 10 reais com um óculos escuro, porque o que eu estava usando, arranhado, incomodava muito e fiquei apenas com 7 contos na carteira.

Chegando na Ilha, fui direto no Bompreço pra saber até que horas ficaria aberto, caso eu precisasse comprar algo no cartão para não morrer. – Tá aberto até 19h. – Disse a gracinha que empacotava as compras. Segui meu caminho pela estrada Bom Despacho-Nazaré sem saber ao certo que caminho seguir entrei em Vera Cruz, que eu não conhecia e antes de chegar na praia encontrei um grupo imenso de bikers vindo em sentido contrário. Era o pessoal com quem eu ia pedalar junto com um outro grupo de ciclismo do centro da cidade. Dei meia volta e segui a galera. Pelo menos não estava mais sozinho.

O povo não tinha muita certeza do “por onde ir” e isso causou um certo impasse em algum lugar que parecia ligar o nada ao lugar nenhum, mas chegamos a um acordo e descemos por uma trilha verdadeiramente bonita e desafiadora. Pra começar era meio areia e meio barro, como o meu pneu não era liso eu não tive muitos problemas, mas tinha uma barreira em minha frente, ora deslizando, ora atrasando meu lado, então eu resolvi ir para o pelotão da frente. O problema foi que numa pequena descida, já chegando na base, minha roda dianteira afundou na areia e eu fui arremessado para a frente. Ainda tentei abrir as pernas e pular o guidão, mas meu shorts ficara preso e eu caí com tudo quase perdendo o saco só tendo tempo de virar de costas para o chão, jogando também a bike pra cima evitando que ela terminasse por cair em minhas costas. Por sorte pegou apenas na coxa e a bike teve apenas a manete esquerda quebrada, mesmo assim ainda conseguia frear com o cotoco.

Seguindo ainda por essa mesma trilha, logo após uma estreita e difícil subida, saímos num pequeno lugarejo onde os homens batiam uma laje enquanto as mulheres caprichavam no feijão que cheirava... Sendo um dos primeiros a subir, tratei logo de me inteirar das paradas e saber se precisavam de ajuda na laje, já que iam chegar mais de 40 corajosos ajudantes (o trabalho acabaria logo, mas o feij
ão com certeza não ia dar conta). Uma gracinha que se aproximava da panela chegou até mesmo a me oferecer um prato, mas eu tive que recusar mesmo sabendo que aquilo devia estar delicioso. Saímos um pouco a frente do que pretendia-se (Manguinhos), mas chegamos em um sítio deveras aprazível chamado Amoreiras. Um garoto local me contou que duas vezes por ano rola uma prova de motocross por aquelas plagas; é uma praia pequena e linda próxima a Itaparica. A orla é muito bem cuidada e possui também uma ciclovia em ótimas condições.

De Amoreiras seguimos não sei pra onde, mas muito mais adiante disseram que era pra um lugar chamado Baiacu”-Y” que estávamos seguindo, ou Baiaquíves, para os mais íntimos. Nesse percurso alguns ciclistas tiveram problemas com suas bikes e em uma das muitas paradas, só depois de algum tempo parados é que fomos saber que estávamos em frente a um posto médico, e eu logicamente me lembrei que havia bebebouro e dei a idéia pra quem estivesse “seco”, como eu, ir encher suas garrafinhas lá. Foi um maluco na minha frente, encheu sua garrafa e vazou, eu fui logo em seguida, em chi minhas duas garrafinhas e vazei, mas quando eu saí do posto não encontrei nenhuma alma ciclística na pista esperando, ou mesmo pedalando por perto. A galera simplesmente desapareceu e lá fui eu atrás do bando.

Devo ter pedalado uns 5km até ver sinal das pessoas e isso já me deixou meio puto. Tava começando a pensar seriamente em continuar minha jornada sozinho (ia ser bem mais divertido). Quando finalmente alcancei algum grupo (que aguardava alguém com o pneu furado) marcamos de nos reunirmos no posto, mas quando cheguei lá o infeliz estava fechado então paramos numa “venda” para reabastecer. Pedi logo uma cerveja e lá se foi mais 2,5 dos meus 7 reais. O bom foi que como o pessoal de Periperi não chegou, eu bebi no gargalo, sozinho e aquilo me meu tanto fôlego que voltaria pra casa numa jornada só. Alguns ciclistas também eram adeptos da cerveja, mas como eu não conhecia e nem fui apresentado a ninguém, me limitei a fazer um brinde discreto. A garota que atendia nessa “venda” era uma gracinha então eu puxei conversa sobre a trilha que seguia ao lado do estabelecimento. Ela disse que ia dar num rio com cachoeira e tudo e que seriam uns 40 minutos ou menos de bike. Falei com alguns ciclistas e eles até acharam uma boa, mas quando consultaram a chefe ela foi categórica: “Não vou porque eu não conheço. A gente vai seguir o que tava previsto!” e isso deu o assunto por encerrado, mas eu ainda volto lá.

O povo de Periperi deu o “zig” e agora eu era um total intruso num passeio de estranhos. Seguimos pro tal lugar por uma estrada cheia de subidas sem fim e descidas enormes até mais alguém se quebrar e a gente parar de novo, dessa vez perto de um rio que eu, é claro, fui ver de onde vinha e me bati com um visual bastante parecido com o do rio do dia anterior, onde Conhaque deu o mergulho do pânico. Também é claro que o povo não viu nada, pois onde eles paravam não se mexiam pra admirar nada (povo estranho da zorra).

Quando finalmente chegamos em “Baiaquives” eu pude sentir na alma porque essa galera fazia tanta questão de ir até lá. Tinha só uma igreja e um cemitério pra se admirar, mas era uma obra tão cheia de energia que por mais que eu odeie igrejas não pude deixar de agradecer a Deus por ter chegado num lugar tão “místico”, digamos assim. Na verdade eu não sei mesmo descrever o que eu senti admirando aquelas ruínas seguras apenas pelas árvores, que tomaram de volta não apenas o prédio da igreja, mas tudo o mais que tinha em redor, exceto o cemitério que ainda funcionava nos fundos.

Depois muita admiração, de várias fotos, descanso etc voltamos em direção à Barra do Gil e Mar Grande para nossa jornada final. Gastei mais 50 centavos com tangerinas e agora minha grana era apenas para emergências. Em Barra do Gil eu saí pedalando pela areia dura da maré baixa, de saque nas gracinhas que desfilavam pela praia, numa sensação total de liberdade e desapego. Passamos pelas ruínas de mais alguma coisa do Império, acho que um engenho, ou sei lá o que e, depois de esperar o conserto de mais uma bike quebrada, chegamos finalmente em Mar Grande para o almoço e a volta pra casa.

A essa altura eu já tinha interagido com algumas pessoas e a sensação de “estranho no ninho” havia ficado para trás. Sentamos todos juntos, bebemos cervejas, brindamos, conversamos horrores, contamos histórias, enchemos o bucho e, na hora da menina passar meu cartão para pagar meu almoço, acidentalmente ela passou 10 reais a mais e teve que me dar em dinheiro, o que aliviou minha dureza, além disso, ainda me deram uma outra parte em dinheiro, pois eu tinha dividido uma moqueca com um brother e agora eu não estava mais duro. Ao levantar da mesa pude sentir toda a dor do tombo que eu levei e a perna estava com aquele roxo “maravilhoso” que eu postei no meu fotolog quando comecei a contar a história.

Fomos para a lancha. Como não caberiam todos em uma só preferi vir na primeira, pois ainda teria que enfrentar mais 15km de pedalada solitária até Pericity. Nos despedimos com a promessa de fazermos ainda muitos passeios juntos.

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