segunda-feira, 24 de março de 2008

Ao acaso (mini-conto)

Ela estava ali bem na minha frente, totalmente entregue. Não tinha mais como escapar dos olhares, das carícias, dos sussurros... estava completamente envolvida e já queria tanto, e com tanta urgência, que por apenas um segundo não me beijou.
Recobrei a consciência e percebi que aquilo era apenas mais uma das minhas loucuras, mas eu não estava mais a fim de bancar o bonzinho, o correto, o perfeito. Olhei para ela com o mesmo carinho de antes, mas as minhas palavras não eram mais galanteios e sim de despedida. Poderia ter seus 17 anos, mas aos meus olhos, naquele instante, pareceu apenas uma criança e não era isso que eu buscava essa noite: ficar conversando, aconselhando, explicando, convencendo, sorrindo, enxugando lágrimas... não. Queria dançar, sair, ficar, beber, relaxar, provar, deixar, voltar... simplesmente não pensar em nada.
Dei meia-volta e encontrei a salvação para a minha alma perdida, cura para todos os males do mundo que habitavam meu corpo aquela noite, me apresentei com um sorriso malicioso e o reflexo foi ainda mais devastador: era uma fada, uma rainha, uma deusa. A empatia e a precisão daquele encontro ao acaso foi tamanho que, na manhã seguinte, nossos sorrisos ainda eram os mesmos. Não queríamos nos despedir, mas a vida sempre será assim, incerta, insegura, mas com maravilhosas surpresas, que a gente só experimenta abrindo mão de algumas outras tantas incertezas.

18/10/2005

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