segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Só o livro salva!


Poderia estar roubando, poderia estar matando, mas é só literatura barata em uma manhã completamente anormal. E o que poderíamos esperar de uma nação completamente desesperançosa com o próprio caráter, digo, futuro? Sei que até o ano que vem muita coisa ainda irá mudar no país inteiro, mas também sei que jamais mudarei meu futuro, digo, caráter. Se a mudança vier em forma de crescimento, que chegue chegando, afinal o desafio é que nos leva à vitória e não a ausência dele. Vamos à luta!
Estava cá em uma segunda-feira desgraciosa, mas meus alongamentos me fizeram ficar mais equilibrados, a água, os pequenos cardumes, os mergulhos das gaivotas, no entanto, meu horário de meditação penetrava pela maré assim como ela, morta, sem apresentar animação. Sentei-me para me concentrar em cada detalhe do artista quando jovem de James Joyce(grato, Sputter!), pouco depois 'Sr. Amendus'¹ sentou-se ao meu lado e veio me pedir que parasse com o meu pensamento rancoroso e pessimista e imaginasse uma mudança positiva quando ele começou a elogiar a mudança. Respeitei, claro, quando ele mudou de assunto e começou a contar do seu fim de semana e sua cachaçada eleitoral deveras divertida. Depois ele se picou e eu retornei ao Joyce, que me colocou exatamente onde meu espírito deveria estar:

"Esse espírito de implicância na camaradagem que ultimamente vinha notando em seu rival não induziu Stephen a deixar seus hábitos de tácita obediência. Não confiava na turbulência e desconfiava da sinceridade de tal desenvoltura, que lhe parecia mais ser uma triste antecipação de virilidade. A questão de honra ali levantada era para ele, como todas as demais, sem importância. Enquanto seu espírito estivera a perseguir inatingíveis fantasmas, disso só lhe advindo irresolução, ouvia à sua volta vozes constantes de seu pai e de seus mestres, concitando-o a ser um cavalheiro acima de todas as coisas, concitando-o a ser, acima de tudo, um católico. Verdade era que essas vozes soavam falso, agora, em seus ouvidos. Quando o ginásio fora aberto ouvira uma outra voz concitá-lo a ser forte, varonil e sadio, e quando o movimento de renascimento nacional começara a se sentir no colégio, ainda outra voz o tinha conclamado a ser sincero com o seu país e a ajudar a levantar a sua língua e sua tradição. No mundo profano, como previra, uma voz mundana conclamá-lo-ia a soerguer a condição decaída do pai a mercê de seus labores; e, neste ínterim, a voz dos seus condiscípulos concitava-o a ser um aluno distinto, a proteger os outros contra o erro, ou a livrá-los dele, e a fazer o máximo para conceder dias livres para a escola. E era o clamor de todas essas vozes soando falso que o fizera parar irresolutamente na perseguição de fantasmas. Dera ouvido a tais vozes apenas por pouco tempo e, no entanto, só era feliz quando estava longe delas, muito distante de seu apelo, sozinho ou na companhia de camaradas fantasmais."² 

¹ Nome fictício; ² O retrato do artista quando jovem (pp.: 80/81) - James Joyce - 1971 Ed. Civilização Brasileira; 

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