Certo
domingo acordei sem saber bem como tinha chegado em casa. Estava inteiro e nem tinha ressaca, incrível! Eu sabia que a casa não tinha nem mesmo uma rosquinha pro café da manhã, mas eu ainda tinha uma merreca escondida de mim
mesmo em algum lugar. Não sentia absolutamente nada a não ser uma
vontade absurda de sair e não tinha um destino, não tinha
nem mesmo vontade de ver ninguém, não estava a fim de pensar se
estava bem ou mal, não queria saber de histórias nem de leotrias
só queria me sentir parte do planeta como qualquer outro animal
livre.
Mas como eu poderia estar tão louco para sair e pedalar de novo se
ontem eu já tinha feito um passeio esplêndido subindo a estrada
velha até o Hospital do Subúrbio e invadindo a mata por ali e
fazendo uma trilha muito tranquila até sair em Mirantes de Periperi.
Depois foi só cachaça e por isso eu não conseguia me lembrar como
chegara em casa, mas se eu estava bem e tudo estava em ordem, algum
amigo, provavelmente, me trouxera(que Jah o abençoe!).
Quando
dei uma panorâmica pelo quarto vi que o estrago não tivera sido
muito grande e pra minha surpresa ser ainda mais surpreendente havia
ganhado um isqueiro e tinha uma brenfa que daria pro
baseado da manhã e tornaria o pedal ainda mais significativo, mas eu
ainda não fazia idéia de como tudo aquilo tinha se passado. Tomei
um banho e vestido de short, camiseta surrada, sandália e boné fui
ter com minha bike que ainda carregava a lama do pedal de ontem pela
mata do cobre, então saí
Em
minha cabeça, se eu estou em qualquer lugar entre Paripe e a Cidade
Baixa sou um local então não ligo mesmo muito para a minha aparência
quando estou a fim de dar uma volta "por aqui”. Mas isso é
porque eu sou mesmo um sem-noção, pois um negro de meu tamanho
mal-vestido e barrunfado vai ser notado e provavelmente mal-visto em
qualquer lugar que chegar, mas eu não ligo, porque também sei que
nesse perímetro alguém me conhece ou eu conheço alguém que me faz
ser bem chegado e livre de todo o mal. E por aí fui com minha bike
procurar um lugar pra degustar meu fino e pensar em minha vida
fracassada e sem destino.
Domingo
às 6 da manhã é a minha hora favorita. Já fiz até música pra
sacramentar. Caminhada, malhação, corrida, ciclismo, sexo é muito
mais gratificante, vá por mim! Se você puder fazer uma meditação
ou qualquer atividade que exija uma força espiritual muito grande,
pode acreditar que a força dessa hora vai lhe ajudar. Lá
fui eu com minha Marieta pela ciclovia desgraçada de ACM Neto em
direção a Paripe. Queria meditar com o que me deixaram, e sequer sabia quem tinha sido, em um lugar sossegado e a estrada da
Base Naval possui um dos pontos mais incríveis pra se sentir
esquecido do mundo no topo de um dos morros que a rodeia. Eu deixo a
bicicleta parada lá embaixo na beira da estrada e subo, fico lá de
cima em contato com a natureza, purificando meu ouvido de tanto
barulho com o canto dos pássaros livres, degustando, contemplando e
registrando o movimento de atletas e veículos. De vez em quando
alguém curioso em ver a bicicleta ali sozinha, mas de lá de cima eu
não erraria uma pedrada. Nem mesmo a polícia me assusta ou se assusta mais quando
passa, pois eles sabem que não estou devendo nada, ou não daria uma
bandeira enorme daquela.
Depois,
com a cabeça lindamente feita e o espírito altamente purificado
desço do morro e pego a Marieta pra a gente, aí sim, começar o dia.
Eu ainda ia tomar o café da manhã, mas aonde eu iria? Ainda tinha o
pedal de volta pra Periperi e ainda tinha tanta gente que eu poderia
ir ver antes de voltar, mas era cedo pra caramba pra incomodar alguém
e nem mesmo o celular estava comigo pra eu fazer a consulta. A única
coisa que eu tinha certeza que não ia me decepcionar era a Feijoada
de Gil e Josineide na rua das Virgens que já faz é tempo que salvava as minhas manhãs de domingo.
Não
há nada melhor que uma mente tranquila e apesar de ainda não
lembrar como chegara em casa e não ter nenhum rumo em minha vida
aquele era o momento em que o mundo podia mesmo acabar, pois estava
tudo bem demais. Pra encerrar a manhã perfeita eu só precisava
descer a estrada velha de Periperi que também possui um dos visuais
mais incríveis desse lado pobre do mundo. Pena que em breve esse
visual deve sofrer drásticas mudanças, mas enquanto elas não vem
lá fui eu descendo com Marieta e me sentindo cada vez mais lindo.
Quando parei na feijoada eu estava num estado de espírito tão
elevado, que um dos clientes me olhou disse para ir com
cuidado pois chegara muito emocionado pra comer esse feijão. (Pode?) Eu
estava visivelmente sedento e faminto, creio que foi isso que ele quis dizer. Não tinha comido nada nem bebido água
desde que acordei.
Não
é a solidão que faz a perfeição, mas a harmonia entre os seres e
o ambiente e nessa manhã eu realmente pude me sentir em harmonia com
o mundo, como se o próprio Deus Todo Poderoso estivesse no comando
de minhas ações. (Obrigado Senhor, por me fazer capaz de
reconhecer!) Enquanto saboreava o feijão fiquei sabendo como cheguei
em casa no dia anterior e com a clareza tudo ficou ainda mais perfeito.
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