domingo, 2 de outubro de 2016

Podia chamar de regozijo

Existe um medo de se andar na rua deserta à noite, principalmente em áreas mais afastadas do centro "policiado" da cidade como julgam aqui a suburbana, aí, por isso, ainda hoje o meu cavalheirismo fora de moda me faz acompanhar minhas amigas até o ponto ou até em casa quando essas deusas abençoadas vêm me visitar á noite sozinhas. E volto sozinho, a pé ou de bike, curtindo a brisa da noite e às vezes ainda encontro parceiragem pra uma birita, mas bom mesmo é voltar como hoje: all alone by the barren the streets.
Só mesmo dando uma volta em nosso bairro deserto à noite é que a gente tem de volta toda a beleza de uma folha de papel em branco. Não existem propagandas políticas, buzinas, pressa, descontrole... Vendo as ruas desertas eu volto no tempo, ao tempo do cruzeiro, do desenvolvimento, quando Mirantes de Periperi ainda era o grande empreendimento do subúrbio. (Ah! a ladeira de Mirantes de patinete naquela época!) Mas olhando as ruas assim desertas eu readquiro minha fé.
Claro que o progresso, fruto do desenvolvimento, teria que chegar e as pessoas iriam comprar seus carros, motos e caminhões, e iriam precisar de transporte e espaço para se locomoverem e gerar todo esse caos que a gente tanto ama e louva. Aí uma volta pelo lugar em que mora completamente vazio faz o cara voltar a perceber todo o sentido que fazem as coisas à sua volta e a sua beleza embutida na bagunça. 
"Eu estava querendo desaparecer e de repente me via ali apaixonado pelo espaço."
Claro que isso é só uma folha em branco sendo preenchida com palavras que não fazem a menor diferença nem mesmo para o papel, que se você for olhar bem nem mesmo é um papel e ainda assim a gente escreve como uns escritores, que também hoje já nem usam mais papel, pois alguns livros já nem são mais impressos, mas que se foda! 
O que eu estava falando era de Periperi e de toda a beleza mágica deste suburbano bairro ordinário, mas não medonho. Depois de tantos anos em um mesmo lugar, praticamente há DNA seu em cada rua, cada bar, cada supermercado, mas no meio de tanta gente às vezes não se percebe a presença amigável, que chega em forma de alma perdida ou até disfarçado num pombo sujo desses noturnos que voam por aqui. Tem gente que tem medo da noite, no fundo, no fundo, porque medo delas mesmas.

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